A PESQUISA NA ESCOLA COMO VALOR NA PRÁTICA DO DESIGN DE INTERIORES
Autor
Cléo Medeiros
Um dos grandes desafios de nossa área de atuação — o Design de Interiores — é tornar a nossa profissão cada vez mais relevante e pulverizar na sociedade a seriedade de nossa capacitação como designers e, a influência direta que podemos oferecer para o usuário em relação ao bem-estar no espaço em que ele vive, mora, trabalha, pratica esportes, dança, pratica yoga, luta, canta, no bar onde senta, no restaurante onde janta, na academia onde malha, no local onde faz cirurgias; pois nosso trabalho está nestes lugares de convívio.
Nossa formação profissional permite com maestria que consigamos transformar ambientes residenciais, comerciais e sociais e, mais do que isso, ao mudarmos os ambientes, somos responsáveis por modificar a relação que as pessoas têm com determinado local. Para tanto, estudamos planejamento de espaços, projetos, mobiliário, cor, composição, semiótica, ergonomia, materiais, iluminação, elétrica, desenho, decoração, entre outros aspectos fundamentais para nossa profissão. Como Designers de Interiores, somos constantemente vistos apenas como decoradores — uma forma bastante reducionista —, o que corrobora com o fato de que necessitamos cada vez mais educarmos a sociedade a nos enxergar como devemos ser vistos: capacitados com as mais diversas habilidades que o Design de Interiores oferece.
O conhecimento sempre será o nosso aliado mais poderoso, lembrando que o mesmo é a compreensão e a aplicação daquilo que antes era apenas uma informação. Ao finalizarem a graduação em Design de interiores, muitos profissionais continuam o percurso acadêmico realizando as mais diversas pesquisas, geralmente no próprio universo do Design, que é bastante amplo. Podemos, no entanto, pensar na pesquisa de forma interdisciplinar, agregando assim saberes diversos e percorrendo caminhos desconhecidos em busca de novas informações que contribuam com um novo conteúdo a ser compartilhado.
Em minha pesquisa atual de mestrado, optei pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Caxias do Sul/RS. Pensar na pesquisa através do viés da História está me levando para um caminho diferente do que eu havia imaginado. Com o tema “Etnodesign, história cultural, práticas sustentáveis e economia circular”, eu tinha a possibilidade de trabalhar com alguns autores. Porém, a História está possibilitando a leitura de referenciais teóricos que eu desconsideraria se não estivesse no programa. Além disso, a interdisciplinaridade faz com que as pesquisas acadêmicas não fiquem “engavetadas” em sites específicos. Ela possibilita a “saída” da sala de aula, das escolas, das universidades e faculdades, além de permitir sua utilização na sociedade e para a sociedade, pois estamos contribuindo socialmente com o assunto que estamos abordando.
Quando pensamos de forma interdisciplinar, conseguimos acessar algo maior que é a cultura, e o nosso trabalho como Designers de Interiores depende bastante de nosso capital cultural. O que nos constitui como indivíduos pode fazer com que difira como iremos aplicar o conhecimento diante da elaboração dos projetos e necessidades do cliente. Uma parte importante do processo de escolha da pesquisa, é entendermos qual é o assunto que nos instiga, o que de fato gostaríamos de pesquisar e se realmente faz alguma diferença em meio a tantas dissertações e teses já escritas. A importância da pesquisa em nossa área fará com que sejamos cada vez mais levados a sério. E tão importante quanto essa relevância é a possibilidade de aplicar a pesquisa nos mais diferentes nichos da sociedade.
Obviamente, em nossa área há muito a ser pesquisado. Isso envolve desde materiais até acessibilidade e inclusão, entre tantos outros aspectos. Como mencionei acima, o meu direcionamento foi para o Design essencial/social, mas se cabe aqui uma dica de pesquisa necessária par a o Design de Interiores, é o estudo sobre saúde mental. Estamos vivendo em uma Era em que a saúde mental está sendo cada vez mais discutida e podemos estudar a melhor maneira de oferecermos um espaço adequado pensado para o bem-estar do usuário que sofre com algum transtorno mental. Se fizermos uma breve busca no Google sobre o autismo, por exemplo, perceberemos que uma a cada cinquenta e quatro crianças nasce com o transtorno do espectro autista.
De que maneira, como Designers, podemos ajudar os pais dessas crianças com o nosso estudo projetual de um espaço com cores, materiais, mobiliários, decorações e iluminação adequados para o nível de autismo que a criança possui? Até onde, como Designers, podemos “sair de nossa própria caixa” e procurar novos estímulos dentro de nossa profissão? Como podemos trazer para a nossa área propósitos cada vez mais sociais, ambientais e humanos?
A pesquisa em si é apenas uma porta de entrada que está aberta a um campo de discussões saudáveis que podem ser ainda mais amplas a respeito do tema escolhido. E, muitas vezes, devido ao tempo de um mestrado (dois anos) ou doutorado (quatro anos), o assunto pesquisado possibilita um aprofundamento ainda maior sobre determinados capítulos. Ou seja, a continuidade do estudo através de novas pesquisas, novos indícios, investigações e a possibilidade de integração dos saberes. E para que a sua pesquisa chegue até as mais diferentes camadas da sociedade, não esqueça de compartilhar e divulgar o seu estudo. A grande contribuição que poderemos oferecer para a sociedade sempre será o conhecimento.
Mini Biografia
Cléo Medeiros, designer de Interiores e mestrando em História na Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS.