Matriz de referência e formação aplicada ao curso de tecnologia em design de interiores
Autora
Débora Pereira Vital
Resumo
A implantação do currículo baseado na Matriz de Referência e Formação se mostra coerente com a particularidade dos cursos tecnológicos, com o aprendizado acadêmico a partir de simulações de práticas profissionais, bem como, preparar o futuro do egresso de forma a estar alinhada ao mercado da sua região. Neste sentido, o presente artigo apresenta o processo de construção de um currículo para o curso de Tecnologia em Design de Interiores do Centro Universitário Tiradentes localizado em Maceió-Alagoas, cujo modelo segue a Matriz de Referência e Formação. Documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos tecnológicos, Portarias do ENADE e Catálogo Nacionais de cursos de Graduação estabeleceram subsídios para definição de perfis, blocos de saberes e competências da atuação prática do designer de interiores do mercado alagoano e conectaram os conteúdos inerentes à formação profissional do egresso do citado curso. Por fim, acredita-se que as etapas adotadas na construção da matriz em questão, não tem a intenção de definir um currículo ideal, mas podem servir como referência para a construção de currículos em outras regiões.
Palavras chaves:
Matriz de Referência – Curso Tecnológico – Design de Interiores – Alagoas
Abstract
The problems and interconnections arising from an interior design project are innumerable and unpredictable, which puts a professor of project practices through constant challenges. Rational knowledge is not enough to face the complexity and diversity of projects, requiring the articulation of a set of comprehensive, didactic, and transversal knowledge, built throughout the professor’s experience in continuous training. This article discusses project-oriented disciplines in interior design courses as a possibility of a favorable environment for the development of reflective thinking, and teaching as an opportunity for permanent evaluation through an analytical relationship with action. Considering the diversities inherent to this field, this work does not intend to analyze the main methodologies used, nor to establish which ones would be legitimate, but to point out the reflective practice as a strategy capable of constructing knowledge, which is consolidated when the student takes personal hold of it. Finally, it is proposed to question the evaluation criteria adopted in these teaching practices, which gain greater complexity from the reflective attitude. Given the scope of the proposed theme and the need for constant research, the article concludes by bringing questions that invite a dialogue about project teaching, proposing to bring more possibilities and less truths.
Keywords: Teaching – Interior Design – Project disciplines – Reflective thinking – Evaluative methods.
Introdução
Ao pensar a profissão de design de interiores na atualidade nos deparamos com infinitos questionamentos que versam quanto à prática profissional, a aceitação do mercado de trabalho, os campos de atuação desse profissional e possíveis inovações da área. A pandemia favoreceu ainda outros questionamentos que relacionam como os espaços estão sendo ocupados, bem como quais as principais preocupações com esse espaço. E sugestiona, ainda, uma retomada ao princípio de toda nossa prática, que é pensar em melhorias espaciais específicas aos clientes.
Algumas dessas questões são respondidas, ou tentam ser respondidas, diariamente, durante o exercício de qualquer designer de interiores. Para algumas conclusões destes questionamentos o profissional poderá retomar o conhecimento apreendido durante as atividades acadêmicas desempenhadas ao longo da sua formação universitária. Muitos são os cursos pensados a partir de diretrizes estabelecidas pelo MEC utilizando estratégias que qualifiquem o aluno como protagonista do seu processo de aprendizagem, a partir de metodologias ativas em que o professor proporciona para o aluno um pensamento crítico e uma postura de resolução de problemas a partir de situações simuladas ou do nosso cotidiano. Formar profissionais competentes e habilitados para desempenhar seu papel, frente a qualquer adversidade, é uma missão crucial das instituições de ensino e essa característica deve ser adequada aos currículos dessas instituições.
Para a construção de um curso que objetiva a formação de profissionais qualificados para desempenhar suas funções em sintonia com as tribulações contemporâneas, devemos priorizar a educação que estabelece conexão entre competência e habilidades. Nesse sentido é de 1996 a Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, documento que referenciou a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais de cursos de graduação, emitidas pelo Conselho Nacional de Educação.
A partir disso, foi definido um modelo para educação brasileira, considerado totalmente novo e inovador, que se desprendia da visão de formação de currículo mínimo, aplicado anteriormente, e propunha um progresso na educação ao definir as “competências necessárias”, determinantes na formação de perfil de egresso específico.
Esse documento estabelece também, para as instituições, uma autonomia na construção dos seus desenhos de currículos inserindo essa habilitação como objeto de formação. (BERCHIOR, 2020) Trata-se de um documento essencial na construção dos currículos e implantação de cursos.
Vinculado às Diretrizes Curriculares Nacionais, outro documento que consideramos para consulta na inserção de novos cursos é o relatório elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, que aponta, na sua segunda parte, os princípios educacionais, destacando os quatro pilares da educação: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outro e Aprender a ser. Estas orientações afirmam que a concepção de educação com uma visão transformadora deve estimular descobertas, ativar ânimo e avivar o fortalecimento do potencial criativo resultando num processo de plenitude com realização da pessoa que aprende a ser em toda tonalidade. (BERCHIOR, 2020). Sobre esse viés, os cursos superiores devem focar também nas questões contemporâneas que permitem e habilitem o egresso atuar em qualquer que seja o campo desempenhando seu papel com consciência.
Este artigo tem portanto, o objetivo de apresentar o processo da montagem de uma matriz curricular para o curso de Tecnologia em Design de Interiores e seus resultados, de uma escola localizada em Maceió – Alagoas, denominada Matriz de Referência, cujo processo de produção estabeleceu-se a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos tecnológicos, do relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, bem como consultas a Portarias do ENADE e Catálogo Nacionais de cursos de Graduação.
Adotando-se as orientações e diretrizes estabelecidas pelos documentos como norteadoras do processo de construção da Matriz de Referência, acredita-se numa formação acadêmica que aproxima o aluno da realidade profissional e estimula vivenciar aspectos da realidade social, bem como, o habilita a desempenhar um papel coletivo mais coerente. A premissa para construção deste currículo está relacionada às ponderações de Perrenoud (1999, pg.7) sobre a definição de competência que infere tratar-se de “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”, além disso, também se apoia em suas reflexões sobre conhecimento – competência, estabelecendo um esquema curricular cujo objetivo é uma matriz de referência de formação. Esta estabelece uma composição com etapas formativas por níveis de complexidade e que se relacionam com as escolhas de metodologias do desenvolvimento do ensino e aprendizagem a partir do desenvolvimento das competências. (BERCHIOR, 2020)
Além da visão de Perrenoud (1999) o processo de formação desse currículo também estabelece conexão com visões da aplicação e avaliação das competências evolutivas, que são pontuadas por Berchior (2020) em sua obra “Desenhos curriculares por desenvolvimento de competências no Ensino Superior”:
No concernente ao processo educativo, perpassam também as reflexões de Vygotsky (1996), em relação à visão de aprendizagem pela interação social; de Dewey (1978), a respeito da aprendizagem pela experiência; de Ausubel (1968) e Ausubel, Novak e Hanesian (1980), considerando a perspectiva de aprendizagem significativa; e ainda de Freire (1998), no que se refere à concepção de autonomia do discente. Nos níveis mais complexos da reflexão, no âmbito das metodologias adotadas, concebe-se a problematização ancorada no arco de Maguerez, que foi difundida por Bordenave e Pereira (2011). (BERCHIOR, 2020).
Portanto, além da formação considerando as competências, a Matriz de Referência estará pautada sob aspectos de aprendizagem em atuação e interação com a sociedade, a experimentação e simulação das situações, uma assimilação significativa com a participação efetiva do discente a partir de problemas reais estabelecidos. Atendendo essas premissas estaremos, de fato, atuando com a gênese de conhecimento – competência.
Para os cursos superiores tecnológicos, os formatos dos seus currículos já partem do princípio da simulação de situações reais e aproximação com o mercado de trabalho, o que permite a implantação da Matriz de Referência e Formação, e possibilita uma construção mais coerente e subsidiada nas pautas da educação. Considerando os cursos de Tecnologia em Design de Interiores, construiremos cursos que se desprendam do ensino de conteúdos, uma vez que alguns podem tornar-se ultrapassados, mas que exercitem e destaquem quais competências o designer de interiores precisa reproduzir, e quais são os conhecimentos e recursos que podem utilizar para atingir o nível de complexidade e respostas dos problemas.
O processo da construção do currículo do curso de Tecnologia em Design de Interiores em Alagoas, teve, portanto, como foco de competências de egresso, uma formação profissional contemporânea, com cenários flexíveis e inovadores, alinhado com a identidade institucional da escola, respeitando sua missão e valores. Dessa forma, imprimindo um caráter ao egresso que está atento às questões socioeconômicas, culturais, regionalidade e abrangência de campo de atuação, cujo foco do processo ensino-aprendizagem, não é somente o conteúdo, mas também, a contextualização desses saberes e como estão sendo aplicados.
Construindo a matriz de referência do curso de tecnologia em design de interiores
Para a construção de uma matriz de referência fundamentada na educação transformadora,1 se faz necessário conhecer o processo de formação de um egresso a partir das habilidades e competências, que o tornam apto a desempenhar um papel profissional. Nesse sentido, entende-se que antes de iniciar o processo de estruturação de uma matriz curricular com esse desenho, faz-se necessário definir o que é competência e como ela será considerada para as etapas de elaboração do currículo. Aqui é importante fazer uma consideração que rompe com qualquer resistência à concepção de competências. A competência só acontece quando a ação ou atividade proposta, estiver suportada no conhecimento profundo de valores e quando permitirem tomar decisões de forma consciente e autônoma.
Existem inúmeras definições para o termo competências, como bem apresentam, SUÑÉ, ARAUJO; e URQUIZA (2015) ao mencionar o desenho de currículo para desenvolver competências, e as demonstram em um quadro com alguns conceitos e seus autores.
Para a construção da matriz de referência do curso de Tecnologia em Design de Interiores demonstrada neste trabalho, iremos considerar a definição de competência apontada por Perrenoud (1999), que afirma que as competências mobilizam conhecimentos demonstrados, a partir de uma ordem disciplinar e organizada em temas eruditos e distintos a cada disciplina, de modo que, cada uma contribua para um nível ou componente de uma realidade específica, a ser definida por cada situação no decorrer do curso.
O conceito de matriz curricular, portanto, assume o seu desenvolvimento pelo processo de ensino e aprendizagem, baseado em fundamentos metodológicos que possibilitam desenvolver competências. Estes métodos acontecem por mediações entre teoria e práticas integrativas e interdisciplinares, considerando aspectos e problemas reais e potencializados por valores humanos e éticos.
Considera-se ainda na construção da matriz de referência a definição de Anastasiou (2010) sobre uma matriz integrativa. Ela pontua que as competências devem ser estabelecidas considerando o perfil de egresso pretendido, e, em seguida, define-se os saberes que o discente desenvolve ao longo do curso para atuar com autonomia, criatividade e críticas. Com a definição do perfil, os saberes devem ser organizados em eixos com a ordenação de conteúdos e disciplinas, estabelecendo a materialização cognitiva de procedimentos e relações atitudinais.
Considerando os passos estabelecidos para a construção do desenho dessa matriz, constituiu-se uma análise sobre o curso, cujo objetivo tinha como premissa conectar o novo currículo com as diretrizes e normativas, estabelecidas até aquele período, para os cursos de Tecnologia em Design de Interiores. Para tanto, a orientação foi elaborar um diagnóstico de currículo, por matriz de referência como início dos trabalhos, discriminados no próximo item.
1. Matriz de referência das dcns e do enade
Como princípio da construção da matriz sugestionou-se a análise e confronto dos dados elencados em Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), considerando as específicas ao curso; o Projeto Pedagógico, documento que estabelece o tipo de estrutura curricular que o curso de Tecnologia em Design de Interiores deveria seguir; além de uma investigação sobre os resultados individuais do curso em provas do Exame Nacional de Desempenho, o ENADE.
Dentre as Diretrizes Curriculares voltadas ao curso de Design de Interiores, as principais consultas detiveram-se sob RESOLUÇÃO No 5, DE 8 DE MARÇO DE 2004 – que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design e outras orientações, bem como, a RESOLUÇÃO CNE/CP 3, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2002 – que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o funcionamento dos cursos superiores de tecnologia.
Sobre o primeiro documento, foi realizada uma averiguação quanto aos itens que destacavam as orientações para o Projeto Pedagógico do Curso e os artigos que apontam o perfil e para as competências definidas para o egresso do curso. Enfatizamos também os conteúdos e eixos de formação que a DCN mencionada, define como essenciais, para a graduação em Design.
Quanto à segunda consulta em DCNs, a de 2002, consideramos os artigos que orientam as especificidades para implantação de cursos Superiores de Tecnologia e os itens que refletem os perfis profissionais de especificidade tecnológica.
Além das duas DCNs citadas, fez-se necessária a consulta em Portaria do ENADE, vigente para o período da construção da matriz, a PORTARIA No 452, DE 30 DE MAIO DE 2018, que dispõe sobre o componente específico da área de Tecnologia em Design de Interiores para o exame de 2018. Esse documento nos permitiu destacar para a construção da matriz o perfil do egresso, as competências, bem como a análise dos conteúdos que deveriam ser contemplados para o exame, mas que, sugestiona para as instituições o que o egresso do curso de Design de Interiores deve conhecer para atuar de forma adequada no mercado de trabalho.
A revisão desses importantes documentos em consonância com o Projeto Pedagógico instituído pela instituição a qual pertence o curso, resultou na definição de três eixos ou núcleos formadores para o curso de Tecnologia em Design de Interiores:
- Eixo de formação básica – eixo que contempla os conceitos histórico-artísticos; representação gráfica, comunicação e concepção de projetos de interiores; estudos sobre a relação usuário/objeto/meio ambiente; e ética geral profissional;
- Eixo de formação específica – eixo que contempla itens de projeto direcionado para a aquisição de competências específicas do desenvolvimento profissional, prático e técnico necessário ao projeto de interiores;
- Eixo de gestão – eixo que contempla a gestão de projeto direcionado para as competências específicas do desenvolvimento profissional e para os processos de gestão de projetos de interiores.
A partir da definição dos eixos e ainda considerando as duas Diretrizes Curriculares e Portarias consultadas, definiu-se alguns perfis profissionais do egresso. Nessa etapa também fizemos uma averiguação quanto à atuação regional dos egressos do curso, de modo a entender os campos de atuação profissional na atualidade. Dessa forma, foi possível elaborar os perfis profissionais do designer de interiores específicos da região de implantação do currículo. Para melhorar o entendimento enumeramos os perfis definidos em: O PERFIL 1 concentra-se dentro do eixo de formação básica, os PERFIS 2, 3 e 4 estão contemplados em formação específica e os PERFIS 5 e 6 pertencem ao eixo de formação em gestão.
- PERFIL 1- Profissional ético e crítico, apto a utilizar comunicação e expressão adequados a área, com visão estética e científica, considerando os aspectos sociais, culturais e artísticos aplicados à prática do design de interiores;
- PERFIL 2 – Profissional com potencial criativo e inovador, capaz de utilizar os conhecimentos de morfologia, teoria e história do design e atuar com visão sistêmica em projeto de interiores;
- PERFIL 3 – Profissional apto a construir projetos de interiores diagnosticando as condicionantes do espaço e do meio, propor soluções com especificação de materiais adequados e expressá-las por meio de ferramentas gráficas digitais, ao nível de detalhamento;
- PERFIL 4 – Profissional com formação técnica, científica e humanista, que visa a qualidade de vida, a segurança e o conforto como solução aos problemas físico-espaciais;
- PERFIL 5 – Profissional apto a planejar e gerir a execução e garantir a eficiência no desenvolvimento das fases de projeto de interiores;
- PERFIL 6 – Profissional apto a especificar e quantificar materiais necessários ao projeto de interiores.
Considerando os perfis profissionais do egresso definidos, a próxima etapa foi elencar as competências organizadas em eixos e perfis e que foram também referenciadas em DCNs e portaria do ENADE. Dessa forma, estabeleceu-se em dezesseis as competências que deveriam ser abarcadas na matriz de formação.
- Competência 1 – Promover conexões entre os conhecimentos histórico-artísticos, suscetíveis de influenciar a qualidade da concepção e da prática de design de interiores;
- Competência 2 – Expressar, interpretar e comunicar por meios de representação bi e tridimensional;
- Competência 3 – Reconhecer elementos perceptivos teórico-práticos de interpretação da relação homem-ambiente construído;
- Competência 4 – Utilizar os princípios éticos na atuação profissional;
- Competência 5 – Reconhecer elementos perceptivos teórico-práticos de interpretação da relação homem-ambiente construído;
- Competência 6 – Dominar as teorias e métodos de projeto em Design de interiores;
- Competência 7 – Compreender as condições climáticas, acústicas, lumínicas e de eficiência energética;
- Competência 8 – Diagnosticar, conceituar, planejar e implementar os processos de intervenção na escala dos interiores;
- Competência 9 – Conceber projetos de interiores a partir dos conhecimentos perceptivos-teóricos considerando os sistemas estruturais e condicionantes do espaço;
- Competência 10 – Expressar, interpretar e comunicar por meios de representação bi e tridimensional;
- Competência 11 – Utilizar as ferramentas de informática disponíveis e aplicada ao design de interiores;
- Competência 12 – Especificar e empregar os materiais de forma adequada;
- Competência 13 – Utilizar conceitos e princípios de ergonomia, usabilidade e antropometria para concepção de projetos de interiores;
- Competência 14 – Gerir, fiscalizar e administrar obras de design de interiores abrangendo todas as suas etapas;
- Competência 15 – Elaborar o cronograma físico financeiro sobre a execução de projetos de interiores;
- Competência 16 – Aplicar o quantitativo de materiais.
Definidas as competências, finalizamos a primeira etapa da construção da matriz de referência especificando os conteúdos, ou como denominamos durante o processo, os blocos de saberes, para desenvolver cada competência da fase anterior.
- Bloco de saber 1 – História da Arte;
- Bloco de saber 2 – Desenho técnico de projeto; Desenho perspectivo;
- Bloco de saber 3 – Percepção visual aplicada ao espaço; Proporção com relação humana e meio ambiente;
- Bloco de saber 4 – Ética e relações profissionais;
- Bloco de saber 5 – Percepção visual aplicada ao espaço; Composição espacial; Teoria da cor e da Forma;
- Bloco de saber 6 – Teoria e métodos de projeto de design de interiores;
- Bloco de saber 7 – Luminotécnica; Conforto ambiental;
- Bloco de saber 8 – Aspectos ambientais e a relação com o espaço construído;
- Bloco de saber 9 – Projeto de interiores residencial, comercial, institucional e de serviços; Paisagismo em pequena escala; Instalações efêmeras e cenografia;
- Bloco de saber 10 – Ferramentas digitais para representação de projetos de design de interiores; Modelos tridimensionais; Detalhamento de interiores e mobiliário;
- Bloco de saber 11 – Ferramentas digitais para representação de projetos de design de interiores; Modelos tridimensionais;
- Bloco de saber 12 – Materiais aplicados; Ferramentas digitais para representação de projetos de design de interiores; Modelos tridimensionais; Noções de instalações prediais e sistemas estruturais e construtivos das edificações;
- Bloco de saber 13 – Ergonomia e desenho universal aplicados ao design de interiores;
- Bloco de saber 14 – Gestão de projeto de interiores;
- Bloco de saber 15 – Etapas e planejamento de projetos de interiores;
- Bloco de saber 16 – Cálculo de materiais.
Essa etapa da elaboração da matriz de referência para o curso de tecnologia em Design de Interiores foi parte essencial do processo, e o próximo passo foi compatibilizar perfil, competência e blocos de saberes, para a organização de disciplinas em uma evolução efetiva de conteúdo e aprendizagem significativos.
2. Concepção de disciplinas-mãe e de conceitos-chave de formação;
Dando continuidade a construção da matriz de referência, após a definição do quadro com eixos, perfis, competências e blocos de saberes, seguimos para a definição das disciplinas bases do currículo. O primeiro exercício consistiu em alinhar um grupo de disciplinas e realizar uma análise das suas ementas, relacionando-as com perfis e competências definidos anteriormente. Iniciamos analisando o grupo de disciplinas do primeiro período do currículo em vigência, e já sugerindo as possíveis fusões de conteúdos em virtude da matriz prévia. Em seguida o exercício foi orientado para os outros períodos do curso.
Em virtude dessa primeira associação as disciplinas receberam um código que foi gerado a partir das siglas de perfil do egresso (ex: P1), competência (ex: C2) e bloco de saber (ex: C3). A disciplina de História da Arte, por exemplo, recebeu o código P1C1B1 pois sua ementa deveria contemplar perfil 1 competência 1 e bloco de saber 1. Esse processo foi realizado para todas as disciplinas do currículo vigente, porém, já ajustando conteúdos que não estavam sendo contemplados para serem abarcados pelo novo currículo. Além desse código foi sugerido que também, para cada disciplina, os conteúdos considerados em ementa, fossem definidos a partir de temas chaves, como conceitos principais com os quais as disciplinas precisam se basear para definir os outros conteúdos.
Sabe-se que em qualquer construção de matriz haverá disciplinas que são bases de conteúdos para a formação. Para a construção do desenho de matriz demonstrado nesse trabalho, estas disciplinas foram denominadas como disciplinas-mãe que como o nome sugere, são tipos que contemplam os saberes essenciais da formação profissional do curso. Elas são as bases que permitem desdobramentos das demais disciplinas específicas em Design de Interiores, e portanto, atuam como cadeira raiz da formação específica.
Para identificar uma disciplina raiz de currículo deve seguir as seguintes orientações: 1. Elas não estarão associadas a disciplinas do eixo básico ou outro eixo, somente do eixo de formação específica; 2. não precisam ser disciplinas de pré-requisito, ou seja, ao longo do curso o aluno não tem que obrigatoriamente ser aprovado em disciplina-mãe para conseguir encaixar uma disciplina de projeto, por exemplo; 3. constituem-se em três ou até seis disciplinas; 4. para cursos de até dez semestre devem ser alocadas até o sexto período.
Seguindo as orientações descritas acima foram definidas as disciplinas do currículo por matriz de referência e formação do curso de tecnologia em Design de Interiores e posteriormente definidas as disciplinas-mãe. Considerando que a instituição definiu que a carga horária mínima no curso deveria ser respeitada, bem como, o tempo de curso em até quatro períodos, a distribuição ficou estabelecida assim:
1º período:
História da Arte P1 C1 B1
Análise e Composição Visual P2 C5 B5 Introdução ao Design de Interiores P2 C6 B6
Representação Gráfica em Design de Interiores P1 C2 B2 Ergonomia Espacial e Humana P1 C3 B3 P4 C13 B13
Geometria Aplicada e Perspectiva P1 C2 B2
2º período:
Detalhe de interiores e mobiliário P3 C10 B10 História do Design P2 C1 B1
Materiais de Decoração e Acabamentos P3 C12 B12 Ecodesign P3 C8 B8
Computação Gráfica 2D P3 C10 B10; P3 C11 B11 Projeto de Interiores Residenciais P3 C8 B8; P3 C9 B9
3º período:
Computação Gráfica 3D P3 C10 B10; P3 C11 B11
Gestão de projetos de interiores P5 C14 B14; P5 C15 B15;P5 C16 B16 Condicionamento Térmico, acústico e iluminação P3 C7 B7
Composição Paisagística P3 C9 B9; P3 C10 B10
Projeto de Interiores Comerciais P3 C8 B8; P3 C9 B9; P3 C10 B10
4º período:
Conduta Profissional P1 C4 B4
Instalações e sistemas de interiores P3 C12 B12 Cenografia P3 C9 B9
Projeto de Interiores Institucionais P3 C8 B8; P3 C9 B9; P3 C10 B10
Como é possível perceber, algumas disciplinas podem abarcar mais de um perfil, mais de uma competência ou mais de um bloco de saber, e esses foram organizados e contemplados com a construção das ementas de cada disciplina. Além das disciplinas citadas foram incluídas: disciplina para desenvolver conhecimento científicos e de produção acadêmica, para expandir o caráter humanístico e social; para desenvolver projeto integradores de conteúdos e de transversalidade entre temas que constituem referências para esse tipo de desenho de matriz e que são exigências gerais para curso superiores de graduação, mesmo para modalidade de tecnologia.
Ao finalizar a organização das disciplinas em períodos, a etapa final foi identificar as disciplinas-mãe e seguindo as orientações citadas anteriormente chegou as seguintes raízes:
- Introdução ao Design de Interiores (disciplina do eixo específico e que gera conteúdos para as disciplinas relacionadas ao projeto de interiores e que foi alocada no primeiro período);
- Materiais de Decoração e Acabamentos (disciplina do eixo específico que resulta desdobramentos para todas as disciplinas do terceiro e quarto período e que está alocada no segundo período);
- História do Design (disciplina alocada também no segundo período e que está relacionada com as disciplinas conceituais da concepção projetual do design de interiores).
Posteriormente a definição da matriz de referência resultante do processo, as disciplinas foram creditadas, visto que a oferta de curso da instituição acontece por distribuição de créditos e após validação dos setores competentes, a matriz foi validada e implantada no primeiro semestre de 2019.
Conclusão
O trabalho em questão buscou apresentar os resultados de um dos diversos métodos de elaboração curriculares que existem e são adotados para a educação superior. Tendo tido a oportunidade de participar da construção de dois currículos estando a frente da coordenação do curso de Tecnologia em Design de interiores acredita-se que as estratégias adotadas para a construção da matriz aqui apresentada são muito coerentes e consonantes com as práticas de mercado, uma vez que permite formar por competência e habilita a profissional a atuar nas mais diferentes adversidades do mercado atual.
As adversidades imprevisíveis, como foi o caso do período de pandemia, onde vários setores sofreram e precisaram adaptar seus serviços e atuações do dia a dia, para o campo de design de interiores, as consequências ainda estão sendo absorvidas. Na prática, muitos profissionais ainda estão se acomodando com os novos jeitos e novos campos de atuação, bem como estão adotando estratégias ideais ao seu próprio negócio. Para formar o profissional que consegue reverter as mais difíceis situações, acredita-se que a formação íntegra e por competências deve ser a estratégia de ensino.
Apesar de acreditar no método aqui exposto para a construção da matriz do nosso curso de tecnologia em Design de Interiores, não se diz, de forma alguma, que o resultado é de fato, o melhor currículo para qualquer curso a ser implantado. Porém, acredita-se que o método pode ser adotado em qualquer outra localidade, e que, provavelmente iria gerar um outro currículo, porque o próprio processo de construção da matriz está em consonância com aspectos do mercado local. Em outras palavras, permite como resultado, a especificidade do currículo a ser adequado a qualquer região.
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Debora Pereira Vital
Possui graduação em Design de Interiores pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas (2008), Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado (DEHA-FAU) pela Universidade Federal de Alagoas, orientada pela professora doutora Maria Angélica da Silva. Integra o Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFAL). Esteve na coordenação do curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores do Centro Universitário Tiradentes (UNIT AL) de 2014 à 2019. De 2014 a 2021 esteve como Professora Assistente I, regime parcial, do Curso de Tecnologia em Design de Interiores do Centro Universitário Tiradentes (UNIT), lecionando disciplinas relacionadas a projetos de interiores e práticas experimentais. Desde 2019 está como Professora Assistente I, regime parcial, do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Tiradentes (UNIT) e em 2021.2 assumiu a coordenação dos Estágios do curso de Arquitetura e Urbanismo. Atualmente leciona, neste curso, as disciplinas de Ação Interdisciplinar na Área de Humanas, Arquitetura de Interiores e Desenho, Paisagem e Cidade, Estágio Supervisionado e Trabalho de Conclusão de Curso. Possui experiência na prática e desenvolvimento de Projeto de interiores e com a investigação científica atua nos segmentos de design, história oral e patrimônio. Atualmente é membro do Conselho Acadêmico da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD).