PREFÁCIO
A Intramuros cresce…
Em seu terceiro número, dá frutos e se consolida. Sinais de amadurecimento se observam na diversidade de que se investe, estendendo seus braços em direções muitas. Os eixos temáticos vão sendo escrutinados, as ideias se multiplicam e o designer começa, enfim, a mostrar a sua cara, expor suas mazelas e mostrar a que veio. Muito bom ver isso acontecendo.
A leitura atenta dos artigos que ora se apresentam deixa clara a complexidade da área sem deixar de evidenciar o cerne comum a todos, que põe em foco o usuário. Se hoje está na moda falar de UX Design – User Experience Design, como algo novo, saibam todos que desde o seu nascedouro o Design de Interiores ligou seus holofotes sobre as pessoas – o público alvo de seu trabalho. Todo profissional que sabe o que é design sempre esteve preocupado com as pessoas que vão habitar os espaços que cria, estudando com profundidade as questões técnicas relacionadas à função e ao desempenho das atividades nos mesmos, em seus aspectos dimensionais, físicos, organizacionais, laborais, dentre outros, mas também analisando com sensibilidade as questões culturais e psicológicas que vão orientar a experiência do indivíduo naqueles ambientes, fomentando sensações positivas e facilitadoras do seu fazer e, de algum modo, contribuindo para a otimização da vida. Esse ponto é que torna a profissão tão rica e tão enriquecedora em sua prática.
O designer de interiores deve escutar e ver o outro sem preconceitos, sem filtros sociais e sem ideias prontas. Deve ser, portanto, profundo conhecedor da cultura e do meio socioeconômico do usuário. Sua atuação se dá em um contexto específico em que princípios e valores característicos se firmaram e devem ser olhados de modo franco. Ao intervir nos espaços com esse pensamento livre pode enfim ver o outro, orienta-lo e ainda desempenhar o seu papel de verdadeiro educador – aquele que colabora no desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais, contribuindo para a autonomia e para a liberdade dos usuários, fortalecendo laços afetivos e ampliando a sensação de identidade e pertencimento através do respeito aos signos culturais às subjetividades.
Como o designer se capacita para tal?
Estudando, essa a única saída. Refletindo sobre as características de nossa história, os matizes dessa construção no passado, de modo a contribuir com o papel dos que a constroem hoje. Uma sociedade pluriétnica como a brasileira é um laboratório vivo de aprendizados. Reconhecermo-nos como integrantes desse caldo é fincar estacas e solidificar raízes.
Perscrutemos ainda as áreas de sombreamento com outras profissões afins para perceber que – Sim!, há elos que nos unem às artes, às engenharias, às ciências sociais, humanas e naturais, e à arquitetura – que, se devidamente apropriados, podem trazer contribuições inúmeras a todos os envolvidos e, principalmente, ao usuário. Saiamos da caixinha e troquemos ideias com outros universos. Baixemos a guarda e sejamos humildes para aprender. Só teremos a ganhar.
O papel do docente nesse mister é fundamental. É na prática do projeto e no olho no olho entre orientador e aluno projetista que se afirmam valores culturais e artísticos e se destroem padrões obsoletos, através do incentivo à pesquisa e à análise crítica que expande horizontes e possibilita a criação de novos caminhos de inovação. Inovar sim, mas em cima do que somos e de como nos construímos.
E ainda: quanta contribuição a se fazer evidente entre o design de interiores e as políticas públicas responsáveis por tornar melhor a vida do cidadão brasileiro! Quanto a fazer! Momentos de crise como a que vivemos podem ser celeiro propício para ações inusitadas dos egressos de nossos cursos. Esperamos que essas leituras sejam fonte de inspiração, incitando aos nossos jovens a uma atuação criativa e que vá muito além dos objetivos estéticos que muitos teimam em colocar como foco.
Uma leitura atenta e inspiradora!
Nora Geoffroy
Presidente do Conselho Acadêmico
ABD – Associação Brasileira de Designers de Interiores