Autora
Alini Jobim
Este artigo aborda a importância dos aspectos emocionais e cognitivos humanos no desenvolvimento de projetos de interiores e ambientes. Historicamente discorre sobre o Design de Interiores no Brasil e, investiga, para além dos aspectos técnicos de concepção de projetos, o modo como as pessoas interpretam e interagem com o meio físico e social e buscam uma melhor representação de si mesmas em seu espaço de convívio. Examina, ainda, como o profissional de Design de Interiores deve atuar para desenvolver projetos que atendam, além das expectativas do cliente, a representação significativa de sua personalidade no ambiente projetado. Ao final, propõe disciplina que aborde de maneira mais específica, na formação do Designer de Interiores, a relação do desenvolvimento do projeto sob o ponto de vista da percepção humana. A pesquisa apoia-se em referências teóricas de profissionais de áreas afins, que relacionaram seus estudos ao campo da Psicologia e Filosofia ligados à arquitetura e ao design de maneira geral.
Palavras-chave: Design de Interiores. Aspectos emocionais. Cognição. Formação profissional.
The article addresses the importance of the aspects related to the human emotion and cognitive ability in the development of interior designs. Historically discusses about Interior Design in Brazil and investigates, in addition to the technical aspects of project designing, the way people interpret and interact with the physical and social environment to seek a better representation of themselves in their social spaces. It examines how the Interior Design professional must work to develop projects that meet, in addition to the client’s expectations, the significant representation of his personality in the designed environment. At end, it proposes a discipline, which addresses in a more specific way, the relation of the development of the project from the point of view of human perception, aiming the formation of the Interior Designers. The research is based on theoretical references of professionals from related areas, who based their studies on the field of Psychology and Philosophy related to the fields of Architecture and Design in a general manner.
Keywords: Interior Design. Emotional aspects. Cognition. Professional qualification.
** Artigo apresentado pela autora como trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação Lato Sensu do Centro Universitário do Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB, no ano de 2017, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Docência na Educação Superior. Trabalho orientado pela Profª MsC. Olga Cristina Rocha de Freitas.
Na atualidade, diversos estabelecimentos de ensino superior têm ofertado formação acadêmica com vistas à capacitação técnico-profissional. Os currículos formativos abarcam os conhecimentos técnicos necessários ao bom desempenho da atividade profissional, contudo, o presente estudo observa na maioria das ofertas de cursos nas instituições pesquisadas, a carência de conteúdos que qualificam o estudante à percepção no campo psicológico e das emoções, e possibilitem atendimento mais efetivo das expectativas relacionadas aos aspectos emocionais e psicológicos do cliente.
Neste contexto, é de extrema importância que o profissional do Design de Interiores seja capaz de desempenhar seu papel de forma satisfatória e ir além de seus conhecimentos de composição visual do espaço. É importante que esse profissional seja também capaz de interpretar e provocar sentimentos e emoções nos expectadores, transmitindo prazer e bem-estar, além de demonstrar valores, sonhos e memórias, que não se podem encontrar em lojas, revistas ou feiras de decoração.
Desta forma, o presente trabalho apresenta pontos importantes a serem considerados na formulação de conteúdo específico para a disciplina que aborde aspectos emocionais e cognitivos do design. Considerando, ainda, o perfil do profissional de Design de Interiores e as expectativas em torno da definição da atividade profissional regulada em Legislação Nacional.
Isto posto, por meio de pesquisa bibliográfica, busca compreender o atual currículo formativo das Instituições Superiores de Ensino para avaliar a inclusão dos assuntos pretendidos.
A trajetória da profissão do Designer de Interiores no Brasil é recente. Surgiu, gradativamente, após a revolução provocada pelo advento da eletricidade e da água encanada que se deu na passagem do século XIX para o XX. À época, cozinhas e banheiros foram reconfigurados, e os tetos de espaços, como salas e dormitórios receberam mais e melhores lustres, sustentando e fortalecendo o conceito de luxo, tão importante para aquele momento. No entanto, acostumadas ao requinte, ostentação e suntuosidade, as classes mais abastadas sequer compreendiam o que hoje consideramos como ergonômico e confortável. (DANTAS, 2015).
Dantas (2015) afirma ainda que apesar de, no início do século XX, muitas residências serem compostas por mobiliário advindos da Europa, algumas lojas de artigos para casa ofereciam serviços de decoração, e, com o auxílio de engenheiros e arquitetos, a prática perdurou por décadas, preparando e promovendo renomados e prestigiados decoradores no país. Era notável a preocupação com o luxo e a ostentação e os modelos estéticos eram buscados fora do país, destacando que os “[…] estilos usados na França e na Inglaterra eram preferência nacional.” (DANTAS, 2015, p.15). Os recursos disponíveis na época eram utilizados não somente para embelezar os ambientes, mas também com o intuito de comunicar características de seus usuários. Status e posição social eram algumas das particularidades expressadas por meio do mobiliário e itens de decoração. Nessa época, surgiram alguns dos principais nomes da decoração brasileira.
De acordo com Laerte Galesso¹ (2014), até meados do século XX, os profissionais da decoração eram poucos, uma vez que não havia formação superior ou técnica na área. Alguns cursos livres eram oferecidos a profissionais de arquitetura, designers de mobiliário ou autodidatas e a contratação de um profissional da Decoração era, ainda, restrito às classes mais privilegiadas. Não havia preocupação com ergonomia, conforto, bem-estar ou a adequação dos espaços às necessidades e preferências dos usuários. Os ambientes eram decorados através da imposição dos profissionais, de acordo com seu gosto e conhecimento.
Na década de 1930, surgiu a necessidade de rever a padronização dos espaços urbanos e em consequência disso despontou um novo público consumidor. Dantas (2015) destaca que:
O termo “decorar” já dá um passo em direção ao seu real significado: adequar os móveis de maneira proporcional e racional, pensar em tapetes e cortinas como complementos indispensáveis, criar uma iluminação capaz de fazer de uma casa (ou apartamento) um espaço agradável. (DANTAS, 2015, p. 40).
Ainda segundo a autora, com a fuga de europeus rumo à América durante a Segunda Guerra, foi inestimável o conhecimento trazido por esses imigrantes para a área do Design. Com uma preciosa bagagem, possuíam uma visão atualizada das artes, design e arquitetura.
Na década de 1950, aflorou a arquitetura moderna brasileira, abrindo novas frentes para a decoração de interiores. Ou seja, “O caminho está pavimentado. Em 1950, a experiência do design e da decoração já formou adeptos e o Brasil é um país em pleno florescimento.” (DANTAS, 2015, p. 140). Por conseguinte, com o advento da televisão, e a união das famílias em torno desta nova tecnologia, o conforto passou a ser uma exigência nos lares brasileiros, aspecto que até então não guardava relevância para a sociedade.
A época, caracterizada por ambientes claros, luminosos, pouca e necessária mobília, famílias tradicionais buscavam profissionais gabaritados e qualificados para elaborar casas suntuosas e imponentes. Em contrapartida, a decoração se tornava mais democrática, como afirma Dantas (2015):
A decoração já não se restringe às famílias de maior poder aquisitivo. As classes média e média alta apostam na organização do mobiliário e de todo o arranjo doméstico como um trabalho conjunto, elaborado organicamente para que os espaços sejam agradáveis e fluidos. E, é claro, atraentes. (DANTAS, 2015, p. 140).
A autora afirma também que nessa época, com relação às competências dos profissionais, a decoração era ligada a iniciativas amadoras e profissionais vindos de outros segmentos. No entanto, em 1959, em São Paulo, foi fundado o Instituto de Artes Decorativas (IADE), a primeira escola criada para a formação do profissional de decoração.
Outra importante instituição a ser considerada, de acordo com EBA [201-], refere-se à Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, antiga Escola Real das Ciências Artes e Ofícios criada em 1816 através de um decreto de D. João VI. Nasceu com o intuito de estabelecer o ensino das artes no Brasil e mais tarde passou a se chamar Academia Imperial das Belas Artes, e em 1889 Escola Nacional de Belas Artes.
Segundo destacam Cirne e Geoffroy [201-] a escola dispunha em seu currículo o curso de Artes Decorativas desde 1933, do qual foram originados nos anos 70 outros quatro cursos, dentre eles o de Composição de Interior. Desde então, foi intitulada Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Geoffroy destaca o pioneirismo do curso de Composição de Interior criado em 1971 e seu importante papel junto ao Ministério de Educação e Cultura nos anos 90 “[…] para discussão do ensino em diversas áreas de conhecimento, sua inserção no campo do Design, reivindicando lugar na equipe multidisciplinar envolvida com o habitat do homem.” (GEOFFROY, [201-]).
Nos anos 80, surgiu o termo “Design de Interiores” ao que antes era conhecido como “Decoração” ou “Arquitetura de Interiores”, e foi fundada a Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), dentro do próprio IADE, com a intenção de estabelecer as normas e regulamentos necessários ao exercício da profissão e do mercado, além de agregar a categoria. (GALESSO, 2014)
A partir disso, a profissão começou a se consolidar. É o início de um processo de organização em torno da profissão e o começo das definições do perfil e das qualificações necessárias ao seu desempenho.
¹ Diretor geral da ABRA – Academia Brasileira de Arte
Segundo pesquisa realizada junto ao Cadastro e-MEC de Instituições e Cursos de Educação Superior², existem atualmente 203 cursos relacionados ao Design de Interiores registrados junto ao Ministério da Educação, abrangendo os graus de bacharelado, tecnólogo e sequencial. Neste universo é possível observar uma quantidade muito mais expressiva de cursos no grau de Tecnólogo, 193 cursos (95%), comparados aos nove (09) cursos de Bacharelado (4,5%) e apenas um (01) curso no grau Sequencial (0,5%).
A pesquisa realizada, junto ao Cadastro revela, ainda, para o total apurado, uma variação nas denominações dos cursos de formação profissional de tecnólogo e bacharelado em Design de Interiores.
Neste sentido, o MEC mantém o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia – CNCST sob periódica atualização. Segundo MEC (2016, p. 7), imprescindível para assegurar que a oferta desses cursos e a formação dos tecnólogos acompanhem a dinâmica do setor produtivo e as demandas da sociedade.
O mencionado Catálogo, além de outras informações importantes, define as denominações dos cursos³ e apresenta uma tabela, contendo lista com as possibilidades de convergência entre as denominações anteriormente empregadas e as primeiras versões do catálogo, em relação à denominação Design de Interiores, sendo: Ambientação de Interiores; Decoração e Design; Design de Ambientes; Design de Interiores e Decoração; Design de Móveis e Interiores; e Interiores e Decorações. Considerando a denominação principal e as convergentes, dos 193 cursos de tecnologia relacionados ao Design de Interiores cadastrados no Ministério da Educação, 188 são na modalidade presencial e cinco (05) na modalidade de educação a distância (EAD).
Relativamente aos cursos de Bacharelado em Design de Interiores, constata-se na pesquisa ao Cadastro e-MEC a ocorrência de cinco denominações diferentes: Design de Interiores (05 cursos); Design de Ambientes (02 cursos); Decoração & Design (01 curso); Decoração (01 curso); e Composição de Interior (01 curso).
O presente trabalho analisou os currículos formativos dos cursos de Tecnologia e Bacharelado em Design de Interiores, elegendo um grupo amostral no rol de cursos de tecnologia, em razão do elevado número de cursos cadastrados no e-MEC, considerando a totalidade dos cursos de Bacharelado (09) para a análise curricular.
A definição de amostragem dos cursos de Tecnólogo adotou como metodologia a seleção pela qualificação dos cursos, delimitando o universo a ser analisado aos cursos que obtiveram a conceituação 5 (cinco) no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE/2016, independente da modalidade presencial ou a distância e do grau tecnólogo ou bacharelado.
De acordo com as informações constantes nos dados do mencionado Cadastro, chegou-se ao seguinte rol de cursos de Tecnólogo, todos em atividade, para referida amostragem com fins de análise curricular:
² Base de dados oficial e única de informações relativas às Instituições de Educação Superior – IES e cursos de graduação do Sistema Federal de Ensino. Os dados do Cadastro e-MEC devem guardar conformidade com os atos autorizativos das instituições e cursos de educação superior, editados com base nos processos regulatórios competentes. (Portaria Normativa MEC nº 40/2007) Denominação do curso: corresponde à denominação pela qual devem ser identificados os Cursos Superiores de Tecnologia ofertados pelas Instituições de Educação Superior.
Tabela 1: Cursos de Tecnólogo selecionados para análise da grade curricular
Fonte: Arquivo da Pesquisa, 2017
Os cursos de Bacharelado em atividade cadastrados no e-MEC foram os seguintes:
Tabela 2 – Cursos de Bacharelado selecionados para análise da grade curricular
Fonte: Arquivo da Pesquisa, 2017
De acordo com os currículos formativos disponibilizados pelas instituições em seus sítios na Internet, formularam-se as seguintes constatações:
1.Cursos de Tecnólogo
a. Os cursos apresentam período de realização que variaram em quatro (04) ou seis (06) semestres e carga horária de 1.640 a 2.280 horas/aula;
b. A quantidade média de disciplinas é de 28 para os cursos de quatro (04) semestres e 34 para os cursos de seis (06) semestres de duração;
c. No que diz respeito às disciplinas que abordam de maneira mais específica os aspectos emocionais e cognitivos do design, observa-se a ausência de unidades formativas com estes fins;
d. Entretanto o curso oferecido pelo Instituto Federal de Alagoas IFAL, apresenta quatro (04) disciplinas que merecem destaque em razão de sinalizarem certa afinidade com o mencionado conteúdo: Atelier de Psicologia, Atelier de Filosofia, Atelier Antropologia e Atelier de Sociologia.
2. Cursos de Bacharelado
a. Dos dez (10) cursos, dois (02) não dispõem de informações curriculares para análise;
b. De oito (08) cursos apenas um (01) tem período de realização de seis (06) semestres, os demais, oito (08) semestres e carga horária variando de 2.670 a 3.396 horas/aula;
c. A quantidade média de disciplinas é de 48 para os cursos de oito (08) semestres e 46 para o curso de seis (06) semestres de duração;
d. No que diz respeito às disciplinas que abordam de maneira mais específica os aspectos emocionais e cognitivos do design, observa-se a existência de unidades formativas com estes fins em cinco (05) cursos dos oito (08) analisados;
Em relevo os conceitos, informações e evoluções tecnológicas que permeiam a formação profissional do tecnólogo, o CNCST tem como objetivo disponibilizar informações essenciais sobre o perfil profissional do tecnólogo e a organização da oferta do curso. Para o Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores, além da carga horária de 1.600 horas, trouxe:
Fonte: Adaptado de Ministério da Educação, 2016
Esta definição do perfil profissional desejável aos concludentes dos cursos de formação tecnóloga em Design de Interiores, ainda que expresse de maneira mais efetiva as atividades que se espera serem capazes de desempenhar no exercício profissional, estão perfeitamente alinhadas ao conceito erigido no Art. 2º da Lei 13.369 de 2016, que define este profissional ao regulamentar a profissão, in verbis:
Art. 2° Designer de interiores e ambientes é o profissional que planeja e projeta espaços internos, visando ao conforto, à estética, à saúde e à segurança dos usuários, respeitadas as atribuições privativas de outras profissões regulamentadas em lei. (grifo do autor) (BRASIL, 2016)
Ainda, no que diz respeito às competências e habilidades para o desempenho profissional de graduados em Design de Interiores, a Resolução Nº 5 do Conselho Nacional de Educação – CNE (2004) traz, em seu artigo 5º, os eixos de formação a serem contemplados nos projetos pedagógicos e na organização curricular, conteúdos e atividades da graduação em Design, com destaque:
I – conteúdos básicos: estudo da história e das teorias do Design em seus contextos sociológicos, antropológicos, psicológicos e artísticos, abrangendo métodos e técnicas de projetos, meios de representação, comunicação e informação, estudos das relações usuário/objeto/meio ambiente, estudo de materiais, processos, gestão e outras relações com a produção e o mercado; (grifo nosso)
II – conteúdos específicos: […]
III – conteúdos teórico-práticos: […] (CNE, 2004).
Em vista disso, com muita clareza, a mencionada Resolução do CNE estabelece para a formação básica da graduação profissional de Design de Interiores, a abrangência curricular contemplando conteúdos cujas temáticas preparem o profissional para a compreensão dos aspectos emocionais e cognitivos necessários à concepção técnica de projetos de Interiores.
Na atividade de Design de Interiores, o processo de projetar exige do profissional a observância de diversos fatores, como definição de paleta de cores, escolha de materiais e revestimentos, a forma como serão instalados, seu custo e praticidade, entre outros. No entanto, considerando os aspectos emocionais e cognitivos, pode-se afirmar que o exercício da profissão seja muito mais do que eleger cores, formas, texturas, linhas, móveis e revestimentos na busca por projetar espaços de forma estética e funcional.
Assim sendo, em seus estudos voltados ao Design de Produtos, Norman (2008, p. 26)afirma que “Além do design de um objeto, também existe um componente pessoalque nenhum designer ou fabricante oferece. Objetos em nossas vidas são mais que meros bens materiais.” Segundo o autor expressa, há neles, de alguma maneira, algum significado muito particular e simbólico, que “[…] induz a uma postura mental positiva, um lembrete que nos traz boas recordações, ou por vezes uma expressão de nós mesmos.” (NORMAN, 2008, p. 26). Nesse sentido, realça três dimensões do design: o Visceral, o Comportamental e o Reflexivo. E exemplifica: “O design visceral diz respeito às aparências. […] O design comportamental diz respeito ao prazer e à efetividade no uso. […] Finalmente, o design reflexivo considera a racionalização e a intelectualização de um produto.” (NORMAN, 2008, p. 25). Por fim conclui: “[…] essas três dimensões muito diferentes estão sempre entrelaçadas em qualquer design. Não é possível ter design sem todas as três. Todavia, o mais importante, reparem em como esses três componentes combinam ao mesmo tempo emoções e cognição.” (NORMAN, 2008, p. 26).
Norman (2008) declara que é impossível separar as emoções da cognição e nesse sentido relaciona a ação destes ao comportamento do ser humano:
“Tanto o afeto quanto a cognição são sistemas de processamento de informações, mas possuem funções diferentes. O sistema afetivo faz julgamentos e rapidamente ajuda você a determinar as coisas no ambiente que são perigosas ou seguras, boas ou más. O sistema cognitivo interpreta e explica o sentido lógico do mundo. Afeto é o termo genérico que se aplica ao sistema de julgamentos, quer sejam conscientes ou inconscientes. Emoção é a experiência consciente do afeto, completa com a atribuição de sua causa e identificação de seu objeto.” (NORMAN, 2008, p. 31).
Nessa perspectiva, Botton (2013) afirma que existe um forte componente emocional na forma com que os espaços são projetados e concebidos, e nossos sentimentos podem ser alterados, a depender da cor de suas paredes ou do formato de suas portas ou janelas. “O que sentiremos numa casa com janelas semelhantes às de uma prisão, quadrados de alcatifa manchados e cortinas de plástico?” (BOTTON, 2013, p. 14). E ainda: “Uma sala feia pode cristalizar qualquer suspeita isolada sobre a imperfeição da vida, enquanto um cenário iluminado pelo sol com ladrilhos de calcário cor de mel pode dar apoio ao que de mais esperançoso existe em nós.” (BOTTON, 2013, p. 13).
Desse modo, Jhon Ruskin apud Botton (2013), sugere a procura de duas coisas relevantes nas construções arquitetônicas, e que também podemos interpretar como de grande significância para o Design de Interiores. A primeira está ligada às necessidades básicas do ser humano, ou seja, abrigo, conforto, segurança e funcionalidade, e a outra, que proporcione recordações, e que transmita sensações do que se considera importante.
Os edifícios que admiramos são em última análise aqueles que exaltam, de várias maneiras, valores que achamos louváveis – que remetem, quer pelos materiais, formas ou cores, para atributos tradicionalmente positivos como a amizade, a bondade, a subtileza, a força e a inteligência. O nosso sentido de beleza e a nossa perspectiva acerca da natureza de uma vida boa estão interligados. Procuramos associações de paz nos nossos quartos, metáforas de generosidade e harmonia nas nossas cadeiras e um ar de honestidade e franqueza em nossas torneiras. Podemos sentir-nos emocionados por uma coluna que se une ao tecto com graça, por degraus de pedra gastos que sugerem sabedoria e por uma porta georgiana que revela jovialidade e delicadeza na sua janela em forma de leque. (BOTTON, 2013, p. 109-110).
Ainda de acordo com Botton (2013), a organização dos espaços e ambientes abriga diversos tipos de informações e mensagens morais, contudo, apenas sugestionam, não se prestando à rigidez normativa que se obrigue a seguir. “Convida-nos, em vez de nos ordenar, a que imitemos seu espírito […]” (BOTTON, 2013, p. 22). Nesse contexto, sustenta que um espaço visualmente atraente pode impulsionar uma melhoria do humor, disposição ou ânimo, e que essa condição de experiência visual pode promover um estado de angústia ou felicidade, de forma que sofremos influência dos elementos que estão ao nosso derredor. A relação do homem com os objetos, suas sensações, experiências, vivências e significados é tema bastante explorado pelo engenheiro elétrico e Ph.D. em Psicologia Donald Norman em sua obra “Design Emocional”. Nesse contexto, Norman (2008) declara que a emoção é componente imprescindível na vida, influenciando comportamentos, sentimentos e pensamentos, e auxilia a emissão de juízos de valor a respeito do mundo e das coisas. Afirma, ainda, que a emoção permite tornar as experiências cotidianas, até as mais elementares, mais ou menos agradáveis. Em suas palavras:
[…] objetos esteticamente agradáveis contribuem para que você trabalhe melhor. (NORMAN, 2008, p. 30). […] objetos atraentes fazem as pessoas se sentirem bem, o que por sua vez faz com que pensem de maneira mais criativa. ” (NORMAN, 2008, p.39).Na qualidade de objetos de arte, eles alegram meu dia. E talvez, o mais importante, é o fato de que cada um transmita um significado próprio,cada um tenha sua história. (NORMAN, 2008, p. 24).
Com relação à abordagem do tema no campo do Design de Interiores, ao prefaciar a obra do autor (2008), Damazio e Mont’Alvão destacaram que: “[…] o design – com seu modo interdisciplinar de ser – vem visitando campos distintos em busca de respaldo teórico e metodológico para colocar em prática a ideia de projetar levando em consideração a emoção que os produtos despertam nos usuários.” (2008, p. 12). E afirmam, ainda, que os objetos assumem “forma social” e “funções simbólicas”. Esse entendimento por parte do profissional do Design de Interiores é de extrema importância para o desenvolvimento de seus projetos, de modo a despertar emoção, permitindo assim, que o design transmita um significado próprio.
No que diz respeito a isso, Botton (2013) salienta que raramente se fala a respeito da significativa capacidade de comunicação dos ambientes, objetos, cores, texturas ou formatos, entretanto, é notório que os sentidos se aguçam na presença desses elementos e afetam a percepção do observador, transmitindo sensações, emoções e impressões daquilo que se pode considerar de fato relevante. “Qualquer objecto de design dará a impressão da atitude moral e psicológica que acarreta.” (BOTTON, 2013, p. 80).
Por conseguinte, alguns ambientes nos parecem mais agradáveis e transmitem sensação de bem-estar, conforto visual e prazer, enquanto outros, podem comunicar confusão, desconforto, agitação e até depressão. Cada componente presente no ambiente é percebido, sejam elementos construtivos ou objetos de decoração ou ainda itens do mobiliário; suas formas, tamanhos, cores e texturas podem agradar ou não aos olhos, isso segundo a percepção humana de cada indivíduo e de acordo com seu sistema de valores. (BOTTON, 2013).
Essas sensações no campo da psique humana têm sido estudadas e atualmente, mais exploradas em um ramo recente da Psicologia Ambiental, a Psicologia do Design de Interiores (SCARDUA, 2009), a qual procura compreender as reações dos seres humanos no nível emocional e cognitivo em relação à organização de espaços interiores. Assim, explora as emoções e vivências positivas para promover ambientes que proporcionem bem-estar e qualidade de vida. De acordo com a psicóloga Angelita Scárdua ⁴ (2011), as pessoas têm buscado cada vez mais uma relação com o ambiente em que vivem, procurando encontrar uma conexão entre seu espaço e o que pensam e sentem. Espaço esse que reflete, tanto traços da personalidade do morador quanto suas crenças e valores, sejam eles recentes ou permanentes. Nesse sentido, a autora afirma que a casa de um indivíduo é um espaço de significado simbólico e existencial, um lugar de auto expressão, ou seja, uma extensão de sua forma de viver e ver o mundo e a si mesmo.
Scárdua (2012) destaca ainda a importância de os profissionais da área perceberem e projetarem os espaços a partir da percepção que o cliente tem do mundo e de si mesmo, para que a casa não seja simplesmente um espaço para hospedar seus moradores, meros dormitórios ou local para higiene pessoal. Que seja sim, um lugar onde as pessoas possam experimentar e vivenciar seus sentimentos, emoções e sensações, se sintam acolhidas e que possua atmosfera capaz de fortalecer identidade, repor energias e delimitar o território físico e imaginário no mundo, além de proporcionar sensação de segurança e pertencimento.
Nas palavras de Norman (2008) “Para o profissional que se dedica ao design centrado no usuário, servir clientes é um meio de aliviá-los de frustrações, de confusão, de uma sensação de impotência. Fazê-los sentir-se no controle e dar-lhes poder.” (NORMAN, 2008 p. 116).
Assim, de acordo com Scárdua (2011), lançar mão de tendências e modismos sem priorizar as necessidades e expectativas do cliente, e principalmente uma representação significativa de sua personalidade, pode constituir em um dos principais problemas que dificultam e prejudicam o bem-estar físico e emocional. Além disso, pode impedir que a casa seja um espaço de refúgio, no qual o indivíduo se sinta seguro em um ambiente reconhecido como sendo próprio, e onde pode se expressar livre e integralmente. Nesse contexto, Scolforo (2009) afirma que “Alcançar o bem-estar em casa envolve perceber valores que ultrapassam tendências de decoração.”
O que se tem constatado, é que as pessoas são sensibilizadas e influenciadas pelo design significativo, uma vez que é repleto de valor e importância; brinda a vida com boas recordações e remete a boas lembranças, incentivando e estimulando uma atitude mental e postura positiva diante da vida. (NORMAN, 2008).
Em vista disso, o importante é que se possa, sem abandonar a estética e os aspectos técnicos como ergonomia e funcionalidade, dentre outros, estabelecer o foco no indivíduo e na sua maneira de compreender e interagir com o meio social e físico, e não no espaço projetado.
⁴ Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela USP (SP). Especializada em Desenvolvimento de adultos, na experiência de Felicidade e nos estudos da Psicologia Social.
Nas palavras de Scárdua (2009):
Ainda assim, de que forma os “profissionais da casa” podem nos ajudar a erigir um lar? Se pensarmos que a ideia de lar implica, em boa parte, a expressão da nossa individualidade, o desejo de afirmarmos nossa condição social e cultural e a representação dos nossos valores pessoais; o mínimo de conhecimento psicológico, tanto ao nível da espécie – o ser humano – quanto ao nível do indivíduo – o sujeito que demanda acasa – deveria ser parte essencial da formação daqueles que constroem casas. Quem sabe, num futuro próximo se estabeleça uma abertura conceitual de ambos os lados para a existência de um trabalho interdisciplinar? Ou, pelo menos, o interesse numa produção teórico-prática que busque efetivamente o diálogo entre áreas como Arquitetura, Design, Decoração, Engenharia Civil, Psicologia,Antropologia, Sociologia, História, etc. (SCÁRDUA, 2009, p. 2).
Nesse sentido, Norman (2008) ressalta que: “[…] o lado emocional do Design pode ser mais decisivo para o sucesso de um produto que seus elementos práticos”. (NORMAN, 2008, p. 24). Compreendida essa realidade, pode-se afirmar que, para o exercício pleno da profissão de Design de Interiores, entender de forma clara os aspectos cognitivos e emocionais do indivíduo e do design é extremamente relevante e impõe a busca por saberes que garantam tais competências.
Na contemporaneidade, em que a sociedade tem à disposição abundante fonte de informação visual propiciada pela evolução das tecnologias de comunicação e informação, as transformações são constantes em todos os ramos da atividade humana, em particular na concepção de projetos de interiores, transformações estas movidas pela indústria das novidades e do consumo.
É perceptível que os valores sociais, culturais, hábitos e costumes e até mesmo o modo de vida das pessoas são negligenciados em detrimento de concepções meramente estéticas ou para sujeitar-se às tendências de mercado. Assim, emergem exigências a serem supridas pelos profissionais de Design de Interiores, no que diz respeito ao atendimento de necessidades peculiares de cada indivíduo na sua essência.
As propensões do mercado, critérios artísticos e estéticos em voga e até mesmo as demandas de consumo não são mais suficientes para orientar o trabalho do Design de Interiores, posto que, o homem atual empenha-se na busca, não apenas por segurança física, mas também pela emocional e psicológica, traduzida por arranjos que proporcionem uma maior sensação de bem-estar e prazer, além de conforto físico-psíquico em seu espaço de convívio.
Ganha importância fundamental o diálogo entre o sujeito e seu ambiente, ou seja, uma concepção pessoal dos espaços, onde os aspectos técnicos e estéticos estejam a serviço das expectativas, anseios e, principalmente, da personalidade do usuário. É essencial que haja uma personificação em seu local de habitação. Personificar o espaço significa, através de sua composição, externar, informar e anunciar a identidade e personalidade de seus moradores, contar suas histórias, costumes e hábitos, ou seja, significar, dar sentido e promover sensação de pertencimento, proporcionando assim, um lugar de refúgio e abrigo, não somente físico, mas também psicológico.
Nesse sentido, evidencia-se a necessidade de novas competências ao profissional de Design de Interiores e, por conseguinte, a atualização curricular que lhe garanta acesso a conhecimentos específicos, assim como desenvolvimento de habilidades e comportamentos necessários ao seu mister, sobretudo nos cursos de tecnologia em design de interiores.
Com efeito, o conceito de Designer de Interiores e Ambientes, acolhido pela legislação brasileira eleva a abrangência da atuação desses profissionais a um patamar ainda não observado em toda a sua plenitude. Particularmente no que se refere aos objetivos de seu mister para a promoção da saúde do indivíduo.
Em que pese a normatização dada pela legislação que regulamenta a profissão no Brasil associar os aspectos de saúde à observância da conformidade das normas técnicas de acessibilidade, de ergonomia e de conforto luminoso, térmico e acústico, necessário se faz ampliar este conceito também no que se refere a conhecer os aspectos emocionais que envolvem o Design. Assim sendo, surge a necessidade de rever conteúdos formativos como forma de melhor atender as peculiaridades relacionadas a esses aspectos e, em particular, a promoção da saúde do indivíduo.
Em vista disso, embora alguns cursos de Bacharelado em Design de Interiores já contemplem conteúdos neste sentido, nos termos da Resolução Nº 5 do CNE, abordando os Aspectos Psicológicos no Desenvolvimento de Projetos de Interiores do ponto de vista da percepção humana, esta atualização curricular deve permear a formação do Design de Interiores de forma mais efetiva nas graduações, em especial na formação do Tecnólogo em Design de Interiores. É essencial que considere referências culturais e sociais, singularidades, hábitos e necessidades individuais, além das relações com os objetos, com a estética e com os simbolismos.
De forma mais específica, irá informar e desenvolver habilidades e comportamentos que: – favoreçam uma consciência crítica do profissional em relação ao indivíduo e sua existência; – proporcionem um comportamento investigativo, questionador e ético que promova o bem-estar físico e psicológico no contexto da individualidade do ser-humano no seu espaço físico; – identifiquem questões subjetivas do usuário e a relação ambiente X comportamento e; analisem a relação pessoa X ambiente no contexto natural e construído.
Por fim, alguns conteúdos poderão orientar a elaboração de Plano de Ensino, tais como: Contextualização da Psicologia ambiental; Comportamento do homem em sociedade; Estudo da interação indivíduo/ambiente; Aspectos psicológicos do design e; Estilos de vida: valores, personalidade e modos de morar.
BOTTON, Alain de. A Arquitectura da Felicidade. Título original: The Architecture of Happiness. Tradução: Lucília Felipe. Alfragide – Portugal: Dom Quixote, 2013.
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Currículo do autor
Alini Jobim
Graduada em Design de Interiores pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB); especialista em Design de Interiores e Ambientação do Espaço pelo Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG); especialista em Docência na Educação Superior (IESB); atuação profissional autônoma no mercado de Design de Interiores em Brasília/DF
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