The actuation of interior design in space of activities for
Social assistance reference centers (cras)
Autores
Gustavo Contreira Fiorini
Carla Prado Vieira Verdan
Thiara L. S. Stivari Socolvithc
Uma das unidades públicas de atendimento e proteção da criança e do adolescente em regiões de vulnerabilidade e risco social são os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), nessas estruturas são realizadas oficinas e atividades em grupos no intuito de fortalecer a convivência familiar e comunitária. O presente artigo tem por objetivo analisar as especificidades deste tipo de trabalho e propor um modelo de design que possa contribuir para o ambiente de socialização dessas entidades. Para isto foi realizado um estudo bibliográfico e desenvolvido um projeto conceitual de design. O resultado obtido é um projeto modelo de design que considera as leis de proteção, os aspectos afetivos e sociais abordados pelos CRAS melhorando o espaço de convivência e aplicação de atividades.
Palavras chave: Design de Interiores, Proteção da Criança e Adolescente, Projeto Modelo.
One of the public units for the care and protection of children and adolescents in regions of vulnerability and social risk are the Reference Center for Social Assistance (CRAS). In these structures, workshops and group activities are organized in order to strengthen family and community life. The purpose of this paper is to analyze the specificities of this type of work and to propose a design model that can contribute to the socialization environment of these entities. For this, a bibliographic study was carried out and a conceptual design project was developed. The result obtained is a model design project that considers the protection laws, the affective and social aspects approached by the CRAS, improving the space of coexistence and application of activities.
Key words: Interior Design, Child and Adolescents Protection, Model Design.
De acordo com os cadernos da Política de Assistência Social (BRASIL, 2013) é garantida a inclusão dos cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade, risco pessoal ou social na rede de proteção brasileira. A política de assistência é dividida em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial. A proteção social especial atende pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade pessoal ou social nas quais os vínculos familiares ou comunitários estão em risco por decorrência de situações de violência e/ou violação de direitos, sendo dividida em média e alta complexidade (BRASIL, 2013). A proteção básica tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Os serviços públicos nesse módulo de atendimento são prestados diretamente nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, localizados em áreas de vulnerabilidade. Sua atuação abrange acompanhamento familiar particularizado ou acompanhamento familiar em grupos. Nos atendimentos coletivos o foco é a organização de grupos de famílias que vivenciem vulnerabilidades ou demandas semelhantes, sendo incentivados a atividades como: acolhida em grupo, oficina com famílias e ações comunitárias. (BRASIL, 2011 p.20). Segundo a Norma Operacional Básica da Política de Assistência Social (PNAS) de 2004 a família possui funções básicas como “prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais” (BRASIL, 2004:20).
Compreende-se que além do trabalho de assistentes sociais, psicólogos e os demais profissionais capacitados para este tipo de atendimento, o ambiente físico do CRAS deve ser adequado para favorecer a reabilitação social e familiar das pessoas assistidas, partindo disto que se questiona como o design de interiores pode auxiliar neste espaço para facilitar e potencializar a integração desses indivíduos valorizando a relação com suas famílias e sua comunidade. Com base nisto, o presente trabalho tem por finalidade analisar as especificidades referentes a este tipo de instituição e propor um modelo de sala de atividades multiuso para o CRAS que seja adequado a contribuir aos objetivos dos centros. Para tanto foi realizada a pesquisa bibliográfica e utilizada a metodologia de projeto de design de interiores para a criação do projeto conceitual modelo.
Brown e Farrelly (2014) argumentam que os materiais manuseados e organizados em um espaço interno possuem a capacidade de expressar significados, sentimentos, emoções e avivam a memória; o designer de interiores, nesta concepção, é capaz de transformar paredes, chão e forro/teto, cimento, pedra, tijolos, tintas e telhas, em um espaço que ativa os sentimentos e pode contribuir para a interação entre indivíduos. O presente estudo segue por este caminho, fundamentado na Lei nº 13.369, de 12 de dezembro de 2016, do Governo Federal do Brasil que reconhece o profissional designer de interiores como aquele que planeja ambientes com o objetivo de proporcionar aos usuários conforto, segurança, saúde e estética adequadas às suas necessidades.
Azevedo (1994) afirma que o design surge quando o ser humano precisou de ferramentas que o ajudassem a sobreviver. O mundo evoluiu e atualmente, em seu ponto de vista, a ferramenta de sobrevivência é a comunicação, logo, os ambientes devem transmitir, evocar memórias ou gerar experiências, por exemplo, pelas escolhas dos seus materiais. Para o autor, o designer deve de igual maneira, imbuir em suas atividades a responsabilidade social: “cabe aos designers uma responsabilidade social, pois é de seus projetos que saem os objetos que usaremos na nossa vida diária” (AZEVEDO, 1994 p.50).
A princípio o designer deve compreender a lógica dos ambientes e a sua relação simbólica com os indivíduos e a sociedade. O professor José Ferreira, no prefácio do livro “Tudo sobre a casa” de Zabalbeascoa (2013), argumenta como os ambientes comunicam sobre seus usuários exemplificando que mesmo em situações de extrema pobreza as pessoas ainda procuram organizar seus ambientes para promover uma sensação de imaginária de segurança e individualidade.
[A respeito dos vestígios das sociedades] será possível ver como, mesmo nas favelas, o interior da casa é importante, além do tanto que fala sobre seus usuários. Como há no barraco precário e apertado, o resguardo da individualidade do lar. […] Também não é raro ver, embaixo dos viadutos da cidade, em meio ao fluxo ininterrupto de veículos e envoltos pela poluição, sofás, mesas e colchões, arrumados como em uma sala de estar imaginária, à vista de todos, conformando um espaço abstratamente fechado, mas que dá aos moradores de rua que ali se abrigam a sensação e a segurança de um interior que, infelizmente, eles não podem ter (FERREIRA in ZABALBEASCOA, 2013 p.7).
Pelo uso de seus espaços externos e internos é possível compreender a forma como uma sociedade está organizada e quais seus conjuntos de costumes e valores. Ferreira argumenta que a lógica de formação da sociedade brasileira corresponde a uma grande discrepância entre os ricos e os mais pobres. De forma que “assim se constituiu um país que até hoje tem grandes dificuldades em assimilar que um futuro de sucesso depende, antes de tudo, da superação das lógicas arcaicas e de uma distribuição mais solidária de suas incríveis riquezas” (FERREIRA in ZABALBEASCOA, 2013 p.8).
Para Miller (2013) esse conjunto de objetos que compõem nossa cultura material são o resultado de objetificações, ou seja, o homem cria objetos e se observa neles (como produto de sua obra), nesse sentido, uma vez criados os objetos passam a fazer parte da cultura e da construção de quem somos, “é o trabalho humano que transforma a natureza em objetos, criando esse espelho no qual podemos compreender quem somos. Assim, o trabalho produz cultura em forma de treco [stuff] ” (MILLER, 2013 p.90). Para o antropólogo, em uma sociedade, mesmo primitiva, os objetos não servem, necessariamente, para uma função utilitária. Segundo ele os objetos funcionam também como cenários/molduras para indicar as condutas adequadas, os quadros de valores, ordenamento social, rituais e etc.
Mais além Miller (2013) analisa que existem diferentes relações entre as pessoas e os objetos circundantes, a influências sobre uma pessoa em relação à uma roupa ou um objeto de moda é muito diferente da relação com uma casa (aqui vamos entender um espaço – público ou privado). No primeiro caso é possível o homem ser o agente que escolhe e expressa-se na escolha da sua indumentária, essa escolha não deixa de estar em um conjunto de regras que é determinado pelo contexto (relação paradoxal dos objetos de liberdade e opressão).
Entretanto, no caso dos ambientes por sua perenidade e escala (a durabilidade, o custo e tamanho de uma casa é relativamente grande), confere-se a capacidade de influenciar as atitudes dos usuários de forma independente, só por sua materialidade e composição, o ambiente já impõe ou sugere certas atitudes. O autor declara que os objetos “funcionam como uma moldura que guia nossa percepção acerca do que é apropriado” (MILLER, 2013, p. 123) de modo que funcionam mais efetivamente quanto mais sutil/ invisíveis fazendo parte de nossa cultura material.
Em uma sociedade desenvolvida por mais que uma pessoa queira expressar-se no seu espaço privado surgem, devido à complexidade social e tecnológica, profissionais (arquitetos, designers, construtores), instituições (órgãos do governo, leis e regulações), fatores econômicos (mercado imobiliário, indústria da construção civil) e a própria cultura (estratos sociais) que influenciam diretamente nessa expressão da identidade. Miller (2013) ressalta além destes agentes externos, a própria organização no lar segue a uma hierarquia (pessoas com maior ou menor poder de decisão na casa) que direciona como o ambiente será configurado. Se todas essas disputas já ocorrem na esfera particular, no âmbito comunitário é de extrema importância se tenha consciência das implicações do que está projetando.
O designer ocupa, neste sentido, o poder de agência sobre o espaço, aspectos relacionados à: informação, proposição e transformação por isto, exige-se a responsabilidade da atuação profissional, com relação ao respeito aos usuários, a comunidade e o meio ambiente. Por ser um transformador da natureza o designer se torna corresponsável pelo uso adequado dos recursos para o projeto, de modo que a sustentabilidade, seja do ponto de vista ecológico, social ou econômico deve sempre ser considerada (BRASIL, 2016).
O designer é um operador que propõe o significado e o uso social dos ambientes. Por meio da objetificação os conceitos, os valores culturais e as demais subjetividades são traduzidas em acabamentos, formatos, texturas, cores e objetos no espaço. A seleção do projeto cria uma hierarquia visual em que os elementos são distribuídos no ambiente e podem informar, de forma verbal ou não-verbal, quais são as condutas adequadas, qual são os valores e as atitudes previstas para cada espaço. Por esta razão que o cuidado com ambientes como o CRAS, principalmente por atender a pessoas em situação de vulnerabilidade social e física, deve ser acolhedor, socialmente igualitário, democrático e acessível.
Contudo o sentido dos ambientes, ou seja, a valoração e uso real do espaço, escapam segundo Cardoso (2012), Ferrara (2002) e Miller (2013) à qualquer projeção de um arquiteto ou designer, pois ele é dinâmico, e se transforma conforme as pessoas vão experimentando o local, desenvolvendo vínculos e hábitos. Um movimento de apropriação, de transgressão à regra que anima os espaços ao longo do tempo.
O estudo para o ambiente do CRAS iniciou-se com a metodologia de desenvolvimento de briefing (PHILLIPS, 2007) sobre as Políticas da Assistência Social, para se levantar as informações relevantes, de forma que, esses dados orientassem o projeto para um melhor resultado. A princípio foram observadas as composições e objetivos do CRAS e na sequência analisado um ambiente para aplicação do projeto conceitual.
A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de proteção, a proteção social básica que engloba: projetos, serviços e benefícios da assistência social para “prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (BRASIL, 2013 p.13) e o sistema de proteção social especial que são um conjunto de serviços e projetos com o objetivo de reconstrução de vínculos familiares, a proteção de famílias e indivíduos em situação de violação de direitos. (BRASIL, 2013). Os Centros de Referência da Assistência Social são unidades de atendimento à população oferecendo acompanhamento familiar ou em grupo, identificando e prevenindo situações de risco e vulnerabilidade social nessas comunidades.
Segundo as Orientações Técnicas para o desenvolvimento do CRAS o acompanhamento dos indivíduos deve ser um processo de garantia de segurança e o acesso aos seus direitos, que contemple as composições heterogêneas de famílias com uma abordagem adequada e não preconceituosa, visando o fortalecimento das mesmas ampliando sua capacidade protetiva (BRASIL, 2011). Dentre essas ações, estão as atividades em grupo:
Oficinas com famílias são compreendidas como encontros previamente organizados, com objetivos de curto prazo a serem atingidos, com um conjunto de famílias, por meio de seus responsáveis ou outros representantes, sob a condução de técnicos de nível superior do CRAS, com o intuito de suscitar uma reflexão sobre um tema de interesse das famílias, sobre vulnerabilidades e riscos ou potencialidades identificados no território, contribuindo para o alcance de aquisições, em especial o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos, o protagonismo, a participação social e para a prevenção a riscos. (BRASIL, 2011 p.29).
No caderno de orientações para gestores e projetistas municipais (BRASIL, 2009) é sugerido que seja feito uma sala separada para as atividades de grupos socioassistenciais, oficinas de reflexão e convivência, palestras e reuniões. A medida mínima seria de 35m2, com capacidade para até 30 pessoas.
Se é possível destacar um espaço como o mais emblemático do CRAS, este é a sala multiuso. É o espaço que pode prestar a maior contribuição no sentido de tornar o CRAS um local atrativo para os diversos membros da família, onde, nas diferentes faixas etárias, podem se dedicar a atividades de convivência, de oficinas e atividades lúdicas e culturais. Ele pode ampliar o potencial de uso do CRAS, tornando-o, de fato, um lugar de acesso a direitos sociais. (BRASIL, 2009 p.32)
O caderno sugere uma forma de distribuição da sala, porém o mais importante é que o projetista deve considerar que a sala deve promover a autonomia de acesso e prever soluções para o impacto sonoro devido ao elevado nível de ruído, por ser uma sala com possibilidade de audição de música em volume mais alto, movimentação de pessoas e de atividades que geram maior intensidade de som (BRASIL, 2009). Baseado nisto, considera-se que o design de interiores para um ambiente de assistência comunitária deva quebrar a cadeia de discrepância entre as camadas sociais e promover um ambiente que seja bem planejado, acolhedor e que considere os fatores emocionais dos usuários. Portanto, os espaços dos CRAS, devem atender mais do que uma função de simples abrigo, mas ter como premissa o estimulo a criatividade e acesso à arte e a cultura, ampliando as oportunidades para a sua inclusão social dos usuários. A sala multiuso foi desenvolvida pensando em um espaço retangular de 72m² para a possibilidade de oficinas de música, dança, artesanato e palestras.
Realizado o briefing, analisado o espaço e estabelecidas suas funções, foram utilizadas metodologias de processo criativo para definição do conceito e soluções para o projeto, descrito por Fonseca e Pereira (2016), o processo criativo é um grupo procedimentos que auxiliam os profissionais a serem criativos.
A criatividade estabelece uma nova conexão entre os elementos ou novas formas de relacionar os fenômenos, bem como compreender os termos, os produtos e as ideias decorrentes de uma situação que até então não haviam sido relacionados. […] Baxter (2011), por exemplo, considera que a criatividade seja o coração do design, a “mola mestra” do trabalho do designer, para ele o projeto mais instigante é justamente aquele que exige algo radicalmente novo. (FONSECA e PEREIRA, 2016, p.17).
Umas das ferramentas para a criação é o painel semântico. Esta ferramenta é apresentada por Fonseca e Pereira (2016: 91) “com a finalidade de comunicar os temas, os conceitos, as cores e materiais que podem ser empregados em um projeto”.
O conceito adotado foi o simbolismo dos laços: em referência à ligação entre elementos. A princípio a ligação do indivíduo consigo mesmo, seus direitos, sua individualidade e suas potencialidades; a união dos laços familiares e o fortalecimento dos mesmos; o desenvolvimento dos laços com a comunidade e com o meio ambiente em que vivem. Esse conceito foi expresso por meio de imagens, cores, formas e texturas que buscam objetivar ou traduzir a ideia inicial. Os elementos principais utilizados são: a corda torcida; o bambu; o jardim vertical; a paleta de cores (tons quentes e terrosos) observados na figura 1.
Figura 1: Painel Semântico.
A corda torcida: é utilizada como uma representação dos laços, remete à sensação de firmeza, segurança, resistência, força e confiabilidade. Esses atributos traduzem que os vínculos não serão rompidos facilmente, e estão presentes no projeto com o intuito de transmitir a união dos dois extremos. No projeto são aplicados ligando a parte inferior (piso) com a parte superior (teto), dispostas em uma trama onde elas se cruzam, representando os laços familiares e afetivos.
O bambu: apesar de sua aparência esguia e frágil é na realidade um material extremamente forte e resistente devido a seus gomos, sendo utilizado, inclusive, na construção civil por resistir as intempéries do clima (MARÇAL, 2008). O significado do bambu remete à segurança e a força da comunidade onde todos os gomos representam as pessoas que estão próximas formando uma unidade. O bambu representa o crescimento espiritual, um caminho que possui etapas de evolução (LEXIKON, 1998). A ideia é reforçar que essa união as tornam mais fortes para resistir as intempéries da vida, superando as possíveis fragilidades.
A paleta de cores: analisando a partir de Pedrosa (2002) é composta por cores análogas entre laranja (marrom) ao verde, utilizando tons equilibrados de baixa intensidade, no caso do verde escuro do balcão e madeira natural das luminárias, combinados com tons mais luminosos e pastéis, nas cores camurça das paredes, o bege dos detalhes de compensado. Essas cores são segundo (HELLER, 2013) índices da natureza. E podem possuir um aspecto neutro, não são estimulantes, por isto provocam sensação de estabilidade e calma. O verde representa as folhagens e os campos, e o marrom remete à terra considerando que o piso/terra é um elemento fixo e seguro, esta cor aplicada na ambientação tem o intuito de transmitir ao usuário a sensação de segurança neste espaço. O preto é um elemento neutro utilizado como ferramenta de contraste e moldura em pontos específicos fazendo ressaltar os elementos principais.
O Jardim Vertical: em blocos de madeira forma uma trama que sustenta os vasos de flores. A presença de elementos naturais retoma os aspectos ambientais, o valor de pertencimento em um ecossistema, que é partilhado por todos (VERDAN, 2016). O painel em malha demonstra a composição harmoniosa gerada por elementos diversos, simbolizando como no trabalho e convivência em grupo cada indivíduo pode contribuir formando uma unidade agradável. Assim como cada bloco tem uma função específica e são essenciais para o resultado final, de igual maneira são as pessoas, essenciais nas funções que desempenham para a família ou comunidade.
Utilização de tinta de terra: esse material além de trazer diretamente da natureza a cor para o ambiente é um produto ecológico e que pode promover consciência ambiental. No site do projeto “Cores da Terra” da Universidade Federal de Viçosa – MG é possível aprender como preparar tinta de terra, essa técnica conhecida como barreado possui entre várias características a de acessibilidade econômica, valorização dos aspectos da natureza local, resgatando a relação da comunidade com sua memória regional. É um material livre de compostos orgânicos voláteis (COVs) (elementos com alta toxicidade), tornando o ar local com maior qualidade (GOIS; DE MIRANDA, 2016).
Definidos os elementos, texturas e cores para o projeto, foi realizada a ambientação em um projeto conceitual 3D (Figura 2 e 3) com soluções de distribuição e de mobiliários funcionais para a sala. Primeiramente, um balcão baixo com gavetas para armazenamento dos materiais de pintura, desenho, brinquedos e etc permitindo fácil acesso aos usuários (adultos ou crianças). Acima deste, ficam expostos instrumentos musicais, podendo ser utilizados nos momentos de aulas ou, quando não utilizados, servem de elementos decorativos do ambiente. As bancadas em compensado servem de apoio para as atividades, promovendo o conforto físico e visual por possuírem a textura da madeira natural. Para outras atividades, as mesas e cadeiras podem ser empilhadas no canto da sala provendo mais espaço na realização das atividades. O bebedouro foi disposto dentro da sala de aula para maior praticidade.
Figura 2: Perspectiva 3D do projeto conceitual 1
Figura 3: Perspectiva 3D do projeto conceitual 1
Para conforto ambiental foi projetado um teto foi revestido com placas de bambu que promovem além dos aspectos simbólicos o conforto térmico e acústico do ambiente (SOUZA, 2004). A iluminação é constituída de plafons embutidos com iluminação LED geral e difusa, porém pendentes em madeira e vidro jateado promovem iluminação focada/localizada para áreas das bancadas. Uma linha de Spots com luz direcional focada oferece destaque a região dos instrumentos e armários. O painel/tela para o projetor possui estrutura móvel para possibilitar diferentes formas de composição da sala. Persianas horizontais em madeira são utilizadas para o bloqueio da luminosidade excessiva. Para conforto térmico se orienta a instalação de ventiladores de parede ou condicionadores de ar, entretanto, os ventiladores em conjunto com um projeto de ventilação cruzada são alternativas mais ecológicas para o espaço. O ambiente foi devidamente sinalizado com informações de saídas de emergência e luzes indicativas de segurança.
O presente estudo foi desenvolvido a partir do questionamento da importância do design de interiores e sua capacidade auxilio à promoção de atividades um ambiente multiuso para os Centros de Referência de Assistência Social. O que se concluiu é que o designer tem uma grande capacidade de atuação e de responsabilidade social ao projetar espaços públicos. Tendo em vista que os ambientes promovem identificação para os indivíduos, expressão de valores e subjetividades de uma sociedade, sendo de extrema importância que o designer compreenda seu papel de agencia na gestão e construção dessas espacialidades. Podendo promover ambientes de grande valor simbólico que permitam a interação de seus usuários gerando laços e memória afetiva.
Considera-se que o ambiente modelo é um projeto conceitual que serve de inspiração para o desenvolvimento desses ambientes com o intuito de transmitir aos usuários deste espaço sensações que potencializariam o objetivo do CRAS. Configurando como um espaço de uso múltiplo, atrativo, com produtos de baixo impacto ambiental, promovendo conforto e segurança para os usuários.
Compreende-se que o estudo é um modelo de design e deve ser adaptado as situações necessárias para os ambientes reais. Considerando importante a participação dos profissionais e usuários do espaço para perceber questões específicas que devem ser adaptadas a cada tipo de comunidade. Ao passo que conforme o espaço é apropriado por nas práticas diárias, novas configurações e organizações podem ser implementadas.
Observou-se que a sala multiuso atende aos objetivos do CRAS, sendo possível visualizar a importância de atuação do designer de interiores na Assistência Social, seu trabalho pode potencializar o desenvolvimento do indivíduo por meio da ambientação. Trazendo personalidade no ambiente de acolhimento, são fortalecidos os conceitos de laços e afetos familiares. As crianças e jovens que utilizam do ambiente, na condição de público-alvo do processo educativo, têm a autonomia garantida no espaço além do desenvolvimento de suas capacidades aperfeiçoado nas atividades.
A limitação do design está na proposição das vivências no espaço, as propriedades estimuladoras podem levar estes indivíduos a respostas afetivas, ou seja, algumas características dos estímulos ambientais podem influenciar as pessoas a sentir e reagir positivamente às atividades que ali forem desenvolvidas. O real uso do ambiente depende de fatores muito além de projetos, como projetos de assistência, atendimentos, dinâmicas e atividades que o órgão venha a promover no espaço.
Neste sentido, pensar este conceito de “laços” no ambiente é tentar proporciona ao usuário desinibição, estímulo e afeto. Se a sala for um espaço agradável, bem estruturado e bem cuidado, poderá ser um lugar de possibilidades ao invés de um lugar de limitações.
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VERDAN, Carla P. V. Materiais de Revestimento e Acabamento. Maringá: Unicesumar, 2016.
Currículos dos autores
Gustavo Contreira Fiorini – Autor
Tecnólogo em Design de Interiores; pela Unicesumar; Projetista Móveis Planejados da empresa Elite Móveis.
Carla Prado Vieira Verdan – Co-autor
Mestranda em Análise do Discurso, Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Letras, área Lingüística/Análise do Discurso. Especialista em Gestão de Pessoas; Graduada em Letras Português Único; Tecnóloga em Design de Interiores. Pesquisadora do Geduem-CNPQ. Professora do curso tecnólogo em Design de Interiores da Instituição Unicesumar.
Thiara L. S. Stivari Socolvithc
Mestranda em Comunicação pela UEL, Graduada em Design de Interiores pelo Unicesumar.
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