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Diretrizes projetuais para quartos de pré-parto, parto e pós-parto

DIRETRIZES PROJETUAIS PARA QUARTOS DE PRÉ-PARTO, PARTO E PÓS-PARTO

Autores

Isaura Cavalcanti Brandão Neta
Flora Alexandre Meira

Resumo:

Com a disseminação da assistência humanizada ao parto normal, as mulheres passaram a reconsiderar a possibilidade de parir sem intervenção cirúrgica. Incentivando essa demanda, o Ministério da Saúde criou por meio da Portaria nº985/99, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) os Centros de Parto Normal(CPN) que são unidades de saúde destinadas ao atendimento do parto normal sem distocia. A presente pesquisa tem como objetivo definir diretrizes de projeto de design de interiores para Quartos de Pré-Parto/Parto/Pós-parto (PPP) inseridos em um CPN. Para isto, coletaram-se dados concernentes à temática através de pesquisas de bibliografias e de campo. Dentre os métodos de coleta de dados adotados neste trabalho, destacam-se as entrevistas semiestruturadas e coleta de poemas dos desejos. Após a análise dos dados, concluiu-se que é possível aliar o conceito de humanização ao cumprimento das normas vigentes, obtendo-se diretrizes para um projeto de quarto PPP funcional e esteticamente adequado.

Abstract:

With the spread of humanized care to vaginally delivery, women began to reconsider the possibility of giving birth without surgical intervention. Encouraging this demand, the Ministry of Health created through Ordinance No. 85/99, within the scope of the Brazilian health system, Vaginally Delivery Centers, which are health units intended to provide vaginally delivery without distortion. The present research aims to define interior design guidelines for Pre-Delivery / Childbirth / Postpartum rooms inserted in an Normal Birth Centers. For this, data concerning the subject were collected through bibliographical and field surveys. Among the methods of data collection adopted in this study, we highlight semi-structured interviews and collection of poems of desires. After analyzing the data, it was concluded that it is possible to combine the concept of humanization with compliance with current norms, obtaining guidelines for a functional and aesthetically adequate fourth Pre-Delivery / Childbirth / Postpartum rooms project.

Palavras-chave: Humanização hospitalar, Parto Humanizado, Centro de Parto Normal, Quarto PPP e acessibilidade.

1. Introdução

1.1. Delimitação do tema e definição do problema

Historicamente o ato de parir, também designado parto, corresponde a um evento natural que sofreu transformações na medida em que a sociedade se desenvolveu. Segundo Diniz (2015), no século XVI, o parto deixa de ser visto como um ato instintivo, vivenciado pelas parturientes, assistido de parteiras e/ou comadres, e passa a ser descrito pela Igreja Católica como uma punição divina¹, fruto do pecado original.

É nesse contexto que se inicia a aproximação médica ao parto, porém a proximidade da obstetrícia médica efetiva-se a partir do século XVIII, com a promessa de resgatar a mulher da parturição com dor. A mulher deixa de ser vista como a culpada, e assume o papel de vítima da natureza, transforma-se, então, o parto em um evento patológico que necessita de intervenção (SEIBERT et al.,2015).

O uso de mecanismos como o fórceps e a sedação² foram retratados como soluções capazes de promover “[…] o apagamento dessa experiência medonha […]” (DINIZ, 2015), inserindo efetivamente a figura médica no trabalho de parto. Entretanto, foi necessário todo o século XIX para que fossem desenvolvidas técnicas cirúrgicas e anestésicas mais eficazes, permitindo a associação do parto medicalizado, caracterizado pela adoção rotineira dessas técnicas, como o modelo mais seguro de parir.

Diante do uso indiscriminado de intervenções médicas e do distanciamento entre a mulher e seus acompanhantes, iniciam-se no final do século XX novas discussões e questionamentos, reconsiderando o alinhamento entre as formas menos invasivas de assistir ao parto e o uso criterioso das tecnologias existentes. Surge, então, o movimento batizado de humanização do parto (DINIZ, 2015).

A humanização da assistência ao parto requer em primeira instância que o exercício do profissional respeite as características fisiológicas da mulher, não intervindo desnecessariamente, e compreendendo os aspectos sociais e culturais do ato de parir, oferecendo, também, o suporte emocional necessário à mulher e sua família, favorecendo a formação dos laços afetivos familiares e o vínculo mãe-bebê (DIAS, 2015).

As críticas ao parto medicalizado tomaram maiores proporções no ano de 1979, a partir da criação do Comitê Europeu sobre parto, responsável por estudar e analisar as intervenções médicas desenvolvidas até então. Essa pesquisa possibilitou o descarte das técnicas não seguras, ajudando na redução do número de mortalidade perinatal e materna no continente europeu (COCHRANE, 1989 apud DINIZ 2015).

A partir de então, pôde-se redescobrir que o corpo feminino, anteriormente encarado como incapaz e frágil, é apto a dar à luz, sem que haja a obrigatoriedade do uso de procedimentos médicos invasivos. O parto normal, descrito como um modelo sem intervenções médicas, para o bebê, deixa de ser visto como um processo que coloca a vida desse indivíduo em risco e é redescrito como processo importante para evitar doenças autoimunes, asma e obesidade, pois ao entrar em contato com as bactérias e micro-organismos existentes no canal vaginal o sistema imunológico do recém-nascido é ativado (DINIZ; PORTAL BRASIL, 2015,2015).

No Brasil, por volta da década de 1970, surgem profissionais inspirados por técnicas tradicionais de parteiras e índios, como Galba de Araújo (1917-1985), no Ceará e Moisés Paciornick (1914-2008), no Paraná, ajudando a impulsionar o movimento pela humanização do parto em escala nacional. Em 1980, inicia-se a manifestação de vários grupos que promovem a assistência humanizada à gravidez e ao parto, como o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde e a Associação Comunitária Monte Azul, ambos em São Paulo.

Nos anos de 1999 e 2000, respectivamente, o Ministério da Saúde (MS) publicou a portaria de nº 985/99, criando o Centro de Parto Normal (CPN) no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS) e iniciou a ampliação da humanização nos serviços da rede pública, com a criação do Programa de Humanização de Hospitais, garantindo um padrão mínimo de assistência ao parto (MOURA et al.; DINIZ, 2015,2015).

Em Junho de 2008, foi publicada a RDC nº38 que é a norma vigente responsável por regulamentar estabelecimentos de assistência à saúde destinados aos atendimentos Obstétricos e Neonatos, dentre esses os CPNs. De acordo com a resolução mencionada, os CPNs devem contar com a presença dos quarto de Pré-Parto/Parto/Pós-parto (PPP), que por sua vez correspondem a ambiente com capacidade para 01 (hum) leito e banheiro anexo, destinado à assistência à mulher durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.

Considerando as necessidades e características condizentes com a definição do parto normal exposta, têm-se como problemática definir quais as diretrizes de projeto de Design de Interiores para um quarto PPP inseridos em um CPN.

¹ Diante da desobediência do homem e da mulher, Deus apresenta a seguinte sentença como consequência: “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (BÍBLIA, Gêneses 3:16).

² A sedação no parto consistia em uma mistura de morfina e alucinógenos injetada na mulher, permitindo o esquecimento das dores sofridas no parto normal (SIEBERT et. al, 2015)

1.2 Justificativa e Relevância

Embora haja um recente incentivo e desmistificação do parto normal sem distocia, verifica-se que grande parte das pesquisas envolvendo essa temática abordam apenas aspectos fisiológicos e comportamentais, uma vez que, em sua maioria, são fruto de estudos produzidos nas áreas do conhecimento da saúde, mais especificamente nos ramos da obstetrícia e psicologia. Enquanto isso, temas que relacionam as necessidades do ambiente onde ocorre o parto e estímulos promovidos por este sobre a mulher em trabalho de parto ainda não são abordados por pesquisas na área de design de interiores ou arquitetura de interiores.

Diante desse panorama, o presente trabalho propõe uma aproximação dessa temática com a área do Design de Interiores, viabilizada através da reunião de diretrizes de projetos e conceitos coletados a partir de pesquisas com temas afins ao do presente trabalho, como por exemplo: a influência da cor e da iluminação em maternidades. Sendo assim, a pesquisa contribui para a associação entre as discussões que envolvem o conceito de humanização do parto com a área do Design de Interiores, por entender que esse movimento requer, além de um atendimento humanizado, um ambiente condizente com essa temática.

1.3 Objetivos geral e específicos

A presente pesquisa tem como objetivo geral definir diretrizes para projetos de design de interiores de quartos de pré-parto, parto e pós-parto (PPP), localizados em um Centro de Parto Normal (CPN).

Como objetivos específicos listam-se:

  •  Conhecer as recomendações de profissionais que atuam no movimento pela humanização do parto para o ambiente do quarto PPP;
  • Identificar as expectativas das gestantes no que diz respeito ao ambiente onde ocorrerá o parto.

2. Metodologia

Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa foram cumpridas as seguintes etapas: Levantamento bibliográfico e documental, pesquisa de campo e síntese de dados e definição das diretrizes de projeto.

1ª Etapa – Levantamento bibliográfico e documental: Esta etapa teve como finalidade reunir referências teóricas e projetuais a partir de consultas à livros, sites, vídeos, artigos, cartilhas etc. As informações coletadas objetivaram promover a compreensão e aprofundamento da temática em estudo para que a partir de então fossem identificadas as diretrizes quanto ao conforto visual (iluminação e uso da cor), ao dimensionamento, à acessibilidade e aos parâmetros normativos concernentes aos ambientes destinados à assistência do parto normal sem distocia.

2ª Etapa – Pesquisa de campo: Para esta etapa, que apresenta caráter exploratório foi feita uma visita a uma roda de gestantes, onde foi aplicado o poema dos desejos, que corresponde a um instrumento de coleta de dados desenvolvido por Henry Sanoff (RHEINGANTZ et al., 2015).

A técnica foi aplicada com um grupo de sete (7) gestantes com o objetivo de identificar suas necessidades, expectativas e desejos em relação ao ambiente ideal para o parto. A coleta de dados foi realizada durante uma roda de gestantes, que corresponde a um conjunto de reuniões coletivas entre mães, pais, gestantes e profissionais da área da saúde com o intuito de esclarecer e discutir assuntos concernentes ao parto e maternidade.

A coleta de dados foi realizada no dia 15 de Janeiro de 2016, durante a discussão sobre o tema: “Parto normal: O que preciso saber?”. No início da dinâmica foi levantada a seguinte questão: “Como você imagina o ambiente ideal para o parto normal?”. As gestantes puderam expressar seus sentimentos e desejos por meio de frases ou desenhos. Após 20 minutos, as participantes explicaram e/ou leram seus poemas, facilitando a interpretação do pesquisador, como recomenda Sanoff (1991 apud RHEINGANTZ et al., 2015).

3ª Etapa – Síntese dos dados e definição das diretrizes de projeto: Nessa fase, as informações levantadas nas etapas anteriores foram analisadas comparativamente e sintetizadas, a fim de possibilitar a definição de diretrizes para projetos de design de interiores de quartos PPP inseridos em um CPN, que por sua vez foram foram organizadas em dois grupos: diretrizes extraídas a partir da análise do poema dos desejos e diretrizes extraídas a partir de revisão bibliográfica.

3. Referencial Teórico

3.1 Centro de Parto Normal (CPN)

Em decorrência de diversos conceitos e posicionamentos favoráveis à valorização do parto normal e a assistência humanizada ao parto, o MS criou, os Centros de Partos Normais no âmbito do SUS por meio da portaria nº 985 (BRASIL, 1999). Tal formalização serviu como medida que visa a diminuição dos óbitos por causas evitáveis (BRASIL, 2014).

Segundo o Ministério da Saúde (1999) o CPN é descrito como uma unidade de saúde destinada ao atendimento exclusivo ao parto normal sem distocias, atuando de maneira complementar às unidades de saúde existente, e promovendo a ampliação do acesso a assistência humanizada.

Os CPNs têm como competência reafirmar os direitos à privacidade, segurança e autonomia da mulher ao parir em um ambiente confortável e acolhedor com direito a presença de um acompanhante de sua livre escolha, e ao mesmo tempo oferecendo-lhes recursos tecnológicos apropriados em casos de risco eventual ou intercorrências (BRASIL; MACHADO et al., 1999, 2006).

De acordo com a portaria mencionada anteriormente, as dependências do CPN devem permitir que os períodos clínicos do parto (pré-parto, parto e pós-parto) sejam assistidos no mesmo local, denominado Quarto PPP. Nesse ambiente o atendimento ao parto é caracterizado pelo uso de técnicas que respeitem o progresso fisiológico do evento.
Essa assistência é feita por meio de uma equipe mínima composta por: um (1) Enfermeiro, com especialidade em obstetrícia e um (1) auxiliar de enfermagem, podendo também ser acrescido uma (1) doula, uma (1) parteira, um (1) médico pediatra ou neonatologista, um (1) médico obstetra (BRASIL, 1999, 2014).

Além do Quanto PPP, o CPN ainda deve contar com as seguintes instalações regulamentadas pela RDC 36: sala de exame imediato, área para lavagem de mãos, área de prescrição, sala de estar para a parturiente em trabalho de parto e para acompanhante, área para assistência ao RN, banheiro para parturientes, copa/cozinha, sala de utilidades, sanitários para funcionários e acompanhantes, depósito de material de limpeza, depósito de equipamentos e materiais de consumo, sala administrativa e rouparia/armário. (ANVISA, 2015)

3.2 Humanização do parto

Quando associado ao parto, o termo “humanização” já foi empregado com os mais diversos sentidos, por exemplo: reproduzindo conceitos disseminados em cenário internacional, Fernando Magalhães (1878 – 1944), que é conhecido como o pai da obstetrícia brasileira, defendia na década de 1920 o uso de alucinógenos e do fórceps como uma assistência humanizada (REZENDE, 1998).

Com o passar dos anos a humanização reuniu diferentes versões, ideias, valores e práticas, que estão diretamente ligadas ao posicionamento e assistência dos profissionais de saúde, parteiras, familiares e acompanhantes diante da dor característica do processo de parturição vivenciado pela mulher (DINIZ, 2015).

Em meados dos anos 1990, iniciou-se a disseminação pelo país de um modelo de assistência obstétrica humanizada recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com o intuito de reverter o alto índice de mortalidade materna e perinatal ocasionado por intervenções desnecessárias e sem comprovação científica.

Diante dessas recomendações o Ministério da Saúde, Brasil (2000) descreveu o parto humanizado como um evento que exige uma relação de respeito estabelecida entre os profissionais da saúde e as mulheres durante o pré-parto, parto e pós-parto. Para isso é preciso que sejam cumpridos os seguintes aspectos:

  •  A compreensão do parto como um processo natural e fisiológico da mulher;
  • O respeito às emoções, necessidades e valores culturais da parturiente;
  • A disposição dos profissionais para ajudar a mulher a atenuar a insegurança e outros temores;
  • A promoção e manutenção do bem-estar físico e emocional ao longo do parto e nascimento;
  • Informação e orientação permanente à parturiente sobre a evolução do trabalho de parto;
  • A disponibilidade de espaço e apoio para a presença de um(a) acompanhante que a parturiente deseje;
  •  Direito de escolha da mulher do local de nascimento e corresponsabilidade dos profissionais para garantir o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde. Considerando a definições do MS, Brasil (2004) descreveu as condutas capazes de favorecer a humanização da assistência ao parto normal, entre essas estão:
  • O banho – favorece uma boa circulação, regula as contrações, relaxa e reduz o tempo de parto;
  • A dieta livre – responsável por restabelecer a hidratação da parturiente;
  • Deambulação – ajuda na prevenção da trombose e reduz o tempo de parto, pois auxilia na descida do bebê;
  • A massagem – auxilia no relaxamento e alivia pontos de tensão;
  • Estímulo à micção espontânea – diminui o incômodo das contrações;
  • A respiração – diretamente ligada à oxigenação materno-fetal;

Diante do exposto, percebe-se uma estreita relação entre os CPNs e o parto humanizado, pois, segundo a Organização Mundial da Saúde (1996) a implantação de locais que se assemelhem ao ambiente doméstico, em hospitais, aumenta a satisfação materna, que consequentemente facilita a progressão do trabalho de parto.

3.3 Períodos clínicos do parto normal sem distocia

Para compreender as necessidades de um quarto PPP é importante conhecer os períodos clínicos do parto normal sem distocias, que, didaticamente, podem ser divididos em quatro estágios delimitados pelas mudanças anatômicas e fisiológicas no corpo da mulher, que requerem assistências diferenciadas à medida que se desenvolvem (BUDIN, 2010 apud RITTER, 2012).

O primeiro estágio pode ser dividido em três fases: latente, ativa e de transição. É no decorrer dessas etapas que o colo do útero afina, também conhecido como cérvice, amolece e dilata-se até um diâmetro de 10 cm para permitir a passagem do bebê pelo canal de parto (BUDIN, 2010 apud RITTER, 2012).

A fase latente compreende a dois terços do tempo total do trabalho de parto, e por tratar-se do início do trabalho de parto a mulher ainda permanece comunicativa e entusiasmada, sendo assim, o relaxamento e a locomoção ainda ocorrem com facilidade e devem ser estimuladas (BUDIN, 2010 apud RITTER, 2015).

Na fase ativa as contrações permanecem mais fortes, longas e em períodos menos espaçados, chegando a ocorrer com intervalo de três minutos e duração de um ou mais, preparando o corpo para a última fase do primeiro estágio, que por sua vez é conhecida como a fase de transição. Essa é caracterizada pela dilatação completa que desencadeia o processo de expulsão fetal. Devido à elevada intensidade das contrações essa fase torna-se mais curta (BUDIN, 2010, apud. RITTER, 2015).

O segundo estágio é marcado pela expulsão do neotato. No momento em que o feto atinge o períneo materno, que corresponde a região onde situam-se os órgãos genitais e anus, as contrações tornam-se mais intensas e a parte do feto torna-se visível até que em seguida ocorre a expulsão completa do RN. Durante este estágio a mulher pode assumir posições verticalizadas, onde a força da gravidade atua a favor da expulsão fetal. (BUDIN, 2010 apud RITTER, 2015).

O terceiro estágio é caracterizado pela expulsão e separação da placenta e membranas ovulares. Após a expulsão fetal as paredes uterinas relaxam por alguns minutos e em seguida reiniciam-se as contrações, com intensidade ente fraca e moderada, que descolam os anexos do útero (BUDIN, 2010 apud RITTER, 2015).

Por fim, após expulsão da placenta inicia-se o quarto estágio, caracterizado pela fase de recuperação que apresenta duração entre uma e quatro horas, onde a mulher pode permanecer em repouso junto ao RN (BUDIN, 2010, apud. RITTER, 2015).

3.3.1 Equipamentos e manobras para o alívio não farmacológico da dor e facilitação do parto.

Considerando as diferentes necessidades apresentadas durante a evolução do trabalho de parto, faz-se necessário o uso de diferentes métodos capazes de promover o conforto e satisfação da mulher em processo de parturição. Esse tipo de assistência ao parto reduz os efeitos colaterais tanto para a mãe como para o bebê além de propiciar à mulher a sensação de controle no parto (SILVA et al., 2015).

Quando inseridas em ambientes que às transmitam segurança e calma, bem como quando dispõem de equipamentos e recursos para alívio não farmacológico da dor, as mulheres apresentam maiores índices de satisfação, redução na utilização de intervenções médicas e maior probabilidade de partos espontâneos (SILVA et al., 2015).

Dentre os métodos não farmacológicos para alivio da dor comumente utilizados, apresentam-se: banho por aspersão; banho por imersão; técnicas de relaxamento; deambulação; e uso de equipamentos como escada de Ling, bola suíça, rebozo, cavalinho. Os equipamento e métodos citados são definidos no texto que segue.

No banho por aspersão, comumente utilizado durante o primeiro estágio do parto, corresponde ao contato com a água aquecida por meio de duchas e ou chuveiros estimula a vascularização, o que promove o relaxamento muscular. Para que esse método torne-se eficaz, é necessário que a temperatura da água permaneça em torno dos 37 ºC e 38ºC e que a gestante permaneça no banho com uma ducha direcionada sobre a região dolorosa por no mínimo 20 minutos. (GALLO et al. 2015).

O banho por imersão durante o pré-parto e parto reduz a percepção da dor materna, favorecendo a minimização do uso de analgesias. Por isso, é importante que essa técnica seja usada após o início da fase ativa, a partir do momento em que a parturiente apresentar dilatação avançada, para que esses efeitos não influam negativamente na progressão do parto. Geralmente esse método é realizado em uma banheira de fibra, de PVC ou inflável portátil, contendo água em temperatura entre 37ºC e 38ºC (GALLO et al. 2015).

O uso de técnicas de relaxamento permite que a parturiente reconheça o seu corpo e diferencie os momentos de relaxamento e contração, o que favorece a progressão do trabalho de parto. O bom relaxamento pode ser proporcionado tanto pela possibilidade de adoção de posturas e posições confortáveis, quanto pela exposição a um ambiente tranquilo, com música ambiente e iluminação adequada (GALLO et al. 2015).

A deambulação, comumente utilizado durante a fase latente, permite a mulher beneficiar-se dos efeitos favoráveis da gravidade e do movimento pélvico característico da caminhada, pois juntos esses estímulos aumentam a velocidade da dilatação, descida fetal e a tolerância da dor (GALLO et al. 2015).
A escada de Ling tem por finalidade servir como suporte para realização de exercícios de agachamento e de levantamento para mulheres em trabalho de parto, auxiliando e aliviando as dores advindas das contrações.

A Bola suíça consiste em uma bola de borracha inflável que é comumente usada na fisioterapia para exercícios de correção postural. No parto esse recurso apresenta bastante versatilidade, podendo ser adotado para facilitar a adoção da postura vertical, alongamentos, para exercícios em conjunto com a escada de Ling entre outros. Assim como nas manobras anteriores os exercícios que fazem uso da bola de nascimento, facilita a descida fetal e progressão da dilatação, podendo ser usado durante todo o primeiro estágio clínico do parto. Além disso, a bola é considerada um instrumento lúdico que auxilia na distração da gestante em trabalho de parto, tornando esse momento mais tranquilo (GALLO et al. 2015).

O Rebozo é um tecido utilizado para sustentação da parturiente nas posições verticais. Assim como a escada de Ling, esse equipamento pode ser usado com apoio da bola suíça. Quanto ao cavalinho, corresponde a um equipamento cuja utilização visa o relaxamento, aumento da dilatação e a diminuição da dor. O “cavalinho” assemelha-se a uma cadeira com assento invertido, onde a gestante apoia o tórax e os braços jogando o peso para frente e aliviando as costas. Durante as contrações, a parturiente também pode ficar nessa posição para receber massagem na lombar, com a finalidade de relaxar e aliviar a dor do trabalho de parto. Esse equipamento pode ainda ser usado sob o chuveiro morno para ajudar a dilatação.

4. Diretrizes Projetuais para Quartos PPP

4.1 Diretrizes extraídas a partir da análise do Poema dos Desejos

A partir dos desenhos e textos expressos nos Poemas dos desejos apresentados pôde-se analisar as necessidades e preferências das mulheres que participaram da roda de gestantes.

A participante número 1 expressou em seu poema o desejo pela presença ativa da família em seu trabalho de parto, além disso, essa ainda esperava ser assistida por doulas e parteira a fim de evitar intervenções médicas desnecessárias. A mesma ainda descreveu que para ela o ambiente ideal deveria dispor da presença de luz natural, temperatura agradável e uma banheira para auxiliar na dilatação. Além disso o espaço deveria assemelhar-se ao lar, transmitindo sensações de aconchego, tranquilidade, amor, união, respeito e segurança.

A participante número 2 expressou em seu poema o desejo pela presença ativa do parceiro em seu trabalho de parto, além disso esperava ser assistida por doulas ou parteiras a fim de que o trabalho de parto ocorresse com o mínimo de intervenções possíveis. Essa participante ainda descreveu que para ela o ambiente ideal deveria permitir a liberdade quanto a escolha das pessoas presentes, bem como quanto aos tipos de iluminação e sons. Ainda para a mesma, o espaço deveria dispor de equipamentos que favoreçam a progressão da dilatação e o alívio não farmacológico da dor.

A participante número 3 expressou em seu poema o desejo pela presença da família em seu trabalho de parto fazendo com que essas, assim como o recém-nascido sintam-se amados, acolhidos e seguros. A mesma participante ainda descreveu que, para ela, o ambiente ideal deveria dispor de pouca luminosidade, cores tranquilas, música, imagens motivacionais e flores. A presença de um chuveiro com água morna, equipamentos para fazer exercícios que ajudem na dilatação e cama para repouso também seriam indispensáveis.

A participante número 4 expressou em seu poema o desejo por elementos como iluminação, temperatura e acústica que promoveria conforto ao ambiente. Também foram citados os equipamentos e mobiliários desejados para a facilitação do parto e repouso da parturiente.

A participante número 5 expressou em seu poema os desejos pela presença do parceiro, em seu trabalho de parto, por esse transmitir a ela segurança, sendo esse aspecto considerado o suficiente para promover a humanização.

A participante número 6 expressou em seu poema o desejo pela presença ativa do parceiro em seu trabalho de parto, além disso, essa ainda esperava ser amparada por uma equipe humanizada composta por doulas e parteira, essa escolha é justificada por entender-se que essas profissionais são devidamente capacitadas a assistir ao parto permitindo que os processos fisiológicos sejam respeitados, o que evitaria intervenções dolorosas, desagradáveis e desnecessárias.

A partir das aspirações expressas nos poemas dos desejos pode-se identificar pontos em comum que ao analisados resultaram em diretrizes projetuais para ambientes destinados a assistência ao parto normal sem distocia, que puderam ser sintetizados na tabela 01.

4.2 Diretrizes extraídas a partir de revisão bibliográfica

4.2.1 Parâmetros normativos para o quarto PPP em Centros de Parto Normal (CPN

O quarto PPP corresponde a um dos ambientes que compõe um CPN. Nesse espaço a gestante será assistida durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato – primeira hora após a expulsão do recém-nascido e dequitação da placenta e membranas (ANVISA, 2015).

Além do cuidado e conforto da parturiente, na composição desse ambiente deve ser previsto um espaço destinado à assistência de enfermagem preliminar ao recém-nascido (RN) e uma área para acomodação do acompanhante, que participará e auxiliará a mulher em trabalho parto (ANVISA, 2015).

Segundo a RDC nº36 (2015) e a Orientação para Elaboração de Projetos: Centros de Parto Normal (CPN); Casa da Gestante, Bebê e Puérpera (CGBP); Adequação da Ambiência; Unidade Neonatal e Banco de Leite Humano (BRASIL, 2013), o quarto PPP, dentre outros critérios, deve respeitar as seguintes recomendações:

  • Dispor de poltrona para uso do acompanhante;
  • Dispor de berço e área de 4,00m² para cuidados de higienização do recém-nascido, onde é prevista a presença de uma bancada para acomodação de uma balança para recém-nascido e uma cuba com instalações de água fria e quente. Esse setor também deve contar com a instalação de oxigênio e sinalização de enfermagem para eventuais intercorrências;
  • Prever a instalação de barra fixa e/ou escada de Ling;
  • O banheiro deve ter área mínima de 4,80m², com dimensão mínima de 1,70m. Nesse espaço deve ser prevista locação de um box para chuveiro que deve ter e dimensão mínima de 0,90 x 1,10m, com instalação de barra de segurança.
  • Instalação opcional de banheira com largura mínima de 0,90m e com altura máxima de 0,43m. No caso de utilização de banheira de hidromassagem, deve ser garantida a higienização da tubulação de recirculação da água. Quando isso não for possível, não deve ser ativado o modo de hidromassagem.

O cumprimento das especificações técnicas específicas para Quartos PPP visam atender aos seguintes parâmetros normativos relacionados ao CPN:

  • O Serviço deve promover ambiência acolhedora e ações de humanização da atenção à saúde;
  • Garantir a privacidade da parturiente e seu acompanhante;
  • Proporcionar condições que permitam a deambulação e movimentação ativa da mulher, desde que não existam impedimentos clínicos;
  • Possibilitar que os períodos clínicos do parto sejam assistidos no mesmo ambiente;
  • Garantir à mulher condições de escolha de diversas posições no trabalho de parto, desde que não existam impedimentos clínicos;
  • Possibilitar o controle de luminosidade, de temperatura e de ruídos no ambiente;
  • O Serviço de Atenção Obstétrica e Neonatal deve possuir um lavatório/pia por quarto;
  • Os lavatórios para higienização das mãos podem ter formatos e dimensões variadas, porém a profundidade deve ser suficiente para que se lavem as mãos sem encostá-las nas paredes laterais ou bordas da peça e tampouco na torneira;

Os lavatórios para higienização das mãos devem possuir provisão de sabonete líquido, além de papel toalha que possua boa propriedade de secagem

A orientação também afirma que a escolha dos equipamentos e materiais utilizados no ambiente devem proporcionar à parturiente bem-estar e segurança, assemelhando-se ao ambiente familiar, diferindo-o de uma sala cirúrgica, ou sala de parto convencional.

4.2.2 Acessibilidade.

Por corresponder a um de espaços destinados ao acesso público, o quarto PPP em uma maternidade deve estar adequado aos parâmetros indicados na Norma brasileira de acessibilidade a edificação, mobiliário, espaço e equipamentos urbanos NBR 9050 (ABNT,2015). Segundo a NBR9050 (ABNT, 2015) o ambiente acessível é aquele que permite o alcance e percepção do espaço, promovendo segurança e autonomia quanto ao uso das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Para tornar o quarto PPP acessível, deve-se considerar as recomendações descritas na NBR9050/2015 (ABNT, 2015).

Quando parado, o indivíduo usuário de cadeira de rodas ocupa um espaço de 0,80m por 1,20m no piso. Para que esse se locomova em linha reta confortavelmente faz-se necessário um espaço de 0,90m. Para a manobra da cadeira de rodas sem deslocamento, faz-se necessário o respeito as seguintes medidas: Para rotação de 90° = 1,20 m × 1,20 m; para rotação de 180° = 1,50 m × 1,20 m; para rotação de 360° = círculo com diâmetro de 1,50 m.

O banheiro acessível de um quarto para PPP deve garantir que o posicionamento das peças sanitárias permita a circulação com o giro de 360º. Para o giro considera-se no máximo 0,10 m sob a bacia sanitária e 0,30 m sob o lavatório. O piso desse ambiente deve ser antiderrapante, não apresentar desníveis junto à entrada ou soleira além de ter grelhas e ralos posicionados fora das áreas de manobra e de transferência.

Outro aspecto que deve ser atendido são as transferências, para esse cumprimento, faz-se necessário que o assento local tenha altura entre 0,43m e 0,45m, bem como, devem ser prevista as áreas de transferência lateral, perpendicular e diagonal.

As bacias e assentos sanitários acessíveis não podem ter abertura frontal e devem estar a uma altura entre 0,43 m e 0,45 m do piso acabado, medidas a partir da borda superior sem o assento. Com o assento, esta altura deve ser de no máximo 0,46 m para as bacias de adulto.

As barras de apoio são necessárias para garantir autonomia quanto ao uso dos equipamentos que compõe o banheiro, essas devem resistir ao esforço de no mínimo 150kg e serem confeccionadas em material resistente a corrosão.

Quando a bacia convencional está próxima a uma parede é recomendado o uso de uma barra de apoio reta fixada ao fundo e duas retas fixadas a 90° na lateral.

Os lavatórios devem ser instalados sem coluna, ou com coluna suspensa ou sobre tampo em local que não interfira na área de transferência para a bacia sanitária, podendo apresentar uma área de aproximação sobreposta à área de manobra. A altura frontal livre na superfície inferior deve apresentar 0,65m. Quanto à superfície superior, deve-se adotar alturas entre 0,78m e 0,80 m. Quanto aos acessórios para sanitários, como porta-objeto, cabides, saboneteiras e toalheiros, devem ter sua área de utilização dentro da faixa de alcance acessível com 40cm.

Os boxes de chuveiros devem apresentar dimensões mínimas de 0,90m por 0,95m e devem ser providos de barras de apoio de 90° na parede lateral ao banco juntamente com uma barra vertical na parede de fixação do banco.

Para instalação de banheiras, deve-se prever uma área de transferência lateral para a plataforma, seja essa fixa ou móvel. Assim como nas demais superfícies de assento do banheiro, a altura máxima da banheira deve corresponder a 0,46m para favorecer o processo de transferência.

4.2.3 Uso da cor em maternidades

Pedrosa (2009) afirma que em nenhuma outra época a cor foi tão empregada como no século XX, parte disso deve-se ao desenvolvimento de novos tipos de corantes e tecnologias que proporcionam um grande leque de possibilidades para o projetista.

Juntamente com o surgimento dos novos tons surgiram novas pesquisas que estudavam a percepção e influência das cores sobre o homem. Com isso constatou-se que sessenta por cento das reações e escolhas de um indivíduo baseiam-se nas cores às quais esses encontram-se expostos. Sendo assim, entende-se a importância de empregar corretamente as cores de acordo as características e sensações que se deseja transmitir no ambiente transmite (LACY, 2011).

Segundo Lacy (2011), é recomendado o uso de tons claros dos raios do vermelho e azul em maternidades, pois essas cores tornam o ambiente mais relaxante e aconchegante, e, além disso, auxiliam na conexão entre mãe e bebê. A aplicação dessas cores pode ser em superfícies distintas, desde os elementos de acabamento até a decoração, como por exemplo, nas cortinas.

Outra combinação entre os tons de turquesa, amarelo claro e rosa acalmam o sistema nervoso, a mente e as emoções, e, portanto, além de influenciar positivamente o comportamento da parturiente, favorecem a permanecia do acompanhante no ambiente. (LACY, 2011)

4.2.4 Iluminação

A Luz é o requisito básico da visão, pois essa dá forma e cor aos objetos e favorece a relação entre os espaços. Logo, a iluminação (natural e artificial) tem influência direta na vida dos seres humanos, pois essa é capaz de influenciar na percepção do espaço, que por sua vez influencia na saúde e bem estar dos indivíduos (SILVA, 2015).

O objetivo de um projeto de iluminação deixou de ser apenas clarear o espaço, mas permitir a criação de climas e efeitos condizentes com as atividades desempenhadas no espaço através dos recursos de dinamicidade, como por exemplo, a dimerização, que consiste na possibilidade de variar a intensidade da luz (SILVA, 2015).

Para especificar os requisitos de iluminação adequados para os locais de trabalho interno, considerando o conforto e segurança no desempenho das tarefas, a ABNT instituiu a norma NBR ISO/CIE 8995-1(ABNT, 2013).

Os principais fatores de influência na iluminação de um espaço interior como, o quarto PPP são: a intensidade da luz no ambiente, a direcionalidade da luz, a luz natural e a flexibilidade do sistema de iluminação por meio da dimerização (ABNT, 2013).

A iluminação direcional pode ser utilizada a fim de revelar detalhes de uma tarefa visual, aumentando a sua visibilidade e fazendo com que a atividade seja facilmente desempenhada. Esse aspecto é importante para a execução dos procedimentos de enfermagem realizados no ambiente estudado.

Conforme descrito na NBR ISO/CIE 8995-1a presença da luz natural, permeada no ambiente por meio de janelas, aberturas zenitais e outros elementos, pode fornecer parte ou toda a iluminação necessária para a execução das tarefas visuais, podendo também ser controlada por meio de persianas ou brises. Essa dinâmica demonstra-se favorável diante da diversidade de usos do Quarto PPP (ABNT,2013).

O sistema de iluminação principal pode ser constituído por três tipos de luz: Geral, caracterizada pela uniformidade; localizada, que é proporcionada pela disposição das luminárias nas áreas onde são desenvolvidas as tarefas, e a local, que é determinada pela junção entre a luz localizada, como principal, associada à luz geral como complementar (ABDALLA, 2016).

Quanto ao sistema de iluminação secundário, pode ser alcançado a partir dos seguintes tipos de luz: Destaque, que objetiva ressaltar um objeto ou elementos em uma superfície; efeito, que propicia a criação do contraste entre luz e sombra; e decorativa caracterizada pela valorização da luminária (ABDALLA, 2016).

Além dos tipos de luz ainda faz-se possível promover uma iluminação secundária a partir da utilização de modulação da intensidade e controles. Este artifício possibilita a diminuição da iluminância do ambiente, bem como a modificação das cores emitidas pela luz através de sistemas de controle (ABDALLA, 2016).

Para Lacy (2011) a presença de luzes com cores diferentes em um ambiente hospitalar transmitem ao usuário a liberdade para usá-los de acordo com as recomendações de um terapeuta especializado. O uso da luz rosa no início da noite faz o paciente, no caso a parturiente, sentir-se seguro, protegido e cuidado.

4.2.5 Tratamento Acústico

A condição acústica de um ambiente deve promover uma boa condição de audibilidade e bloquear a entrada e saída de ruídos (sons indesejados) no recinto, o que evita interferências entre as atividades realizadas dentro e fora do ambiente (CARVALHO, 2006).

Quando tratando-se de um Quarto PPP, a liberdade para a vocalização, que corresponde aos gemidos e choros característicos do parto normal corresponde a uma técnica facilitadora do parto, sendo assim o ambiente deve contar com o tratamento acústico capaz de assegurar a privacidade da parturiente, bem como o conforto acústico das demais dependências que compõe a edificação.

Para promover tratamento acústico desejado ao tipo de ambiente estudado, evitando o vazamento de som do meio interno para o externo e vice e versa, pode-se utilizar dois tipos de materiais: convencionais e não convencionais. Dentre esses deve-se buscar aqueles que apresem os seguintes tipos de funcionalidades: Isolante, que impede a passagem de som de um recinto para o outro; absorvente, que além de evitar a saída do som e reduze o eco, e difusora que reflete o som de forma difusa.

Os materiais convencionais, que correspondem aos elementos comumente empregados na construção civil, como por exemplo, os blocos cerâmicos, o concreto, o vidro, a madeira, entre outros. Esses elementos apresentam características isolantes, porém nem sempre isolam o percentual de ruído produzido no ambiente ou em seu entorno. Para promover uma atenuação suplementar, faz-se necessária a associação ou a substituição dos materiais convencionais pelos materiais não convencionais (CATAI et al, 2016).

Já os materiais não convencionais, tratam-se de inovações desenvolvidas para isolar acusticamente diversos ambiente, como por exemplo: a lã de vidro, a lã de rocha, o drywall, entre outros (CATAI et al, 2016).

Além da aplicação dos materiais acima citados é indicada a criação de superfícies com potencial de absorção do som como por exemplo: elementos têxteis e superfícies com relevo. Esses elementos não limitam-se a estrutura da edificação, mas pode estar empregado no mobiliário e em elementos decorativos.

A mesma participante ainda descreveu que o ambiente ideal deve dispor de uma iluminação dimerizavel, podendo assim adequar-se ao desejo do momento, temperatura agradável, equipamentos para auxiliar na facilitação do parto, sendo entre esses uma banheira com água morna. Além disso, o espaço deve assemelhar-se ao lar, transmitindo sensações de aconchego, tranquilidade, liberdade, para locomoção e expressão, e segurança.

A participante número 7 expressou em seu poema a necessidade de dispor de um ambiente que apresente dinâmica quanto iluminação, cor, temperatura e equipamentos, por entender que as necessidades e desejos apresentam-se durante o parto em si. Além disso ainda entende a importância de dispor de elementos que remetam a natureza através de cores e formas.

A partir das informações apresentadas entende-se que desejos mais citados na amostra foram: a presença da família no ambiente e a iluminação dimerizavel e aconchegante. Isto levanta duas necessidades que devem ser atendidas: Espaço para acomodação do acompanhante e o controle da luminosidade no ambiente, tanto pelo uso de cortinas como da dimerização da iluminação artificial.

4.3 Sugestão se setorização para quartos PPP a partir de diretrizes de projeto

Considerando as diretrizes extraidas das aspirações expressas nos poemas dos desejos, bem como as indicadas nos regulamentos técnicos para a composição do quarto para PPP, sugere-se a subdivisão do espaço em seis setores, sendo esses: Repouso da Gestante, Acomodação do acompanhante, Refeição, Banheiro, Assistência ao pré-parto e Cuidados/higienização do RN.

O setor de Repouso da Gestante deve ser destinado ao descanso entre e/ou durante as contrações, bem como a adoção de posições que auxiliem no alívio não farmacológico da dor característica do trabalho de parto, como o decúbito lateral. Para esse espaço indica-se a presença de um aparelho de som, uma cama do tipo tablado e uma instalação para oxigênio, próxima a cama, para estabilização da parturiente em caso de intercorrências.

Ao adotar as dimensões sugeridas pelas pelo MS através da Orientação para Elaboração de Projetos, a cama do tipo tablado possibilitará a permanência de mais de uma pessoa sob ela ao mesmo tempo e favorecendo a realização de manobras de assistência ao parto. Além da funcionalidade desse mobiliário a estética semelhante a uma cama de casal convencional auxilia na promoção da ambiencia acolhedora e domiciliar apresentada das diretrizes extraidas dos poema dos desejos(BRASIL, 2013).

Outra diretriz que deve ser considerada na concepção desse setor é a ligação direta com o setor de cuidados preliminares e higienização do recém-nascido (RN), para que a mulher possa acompanhar de perto os procedimentos realizados com o RN enquanto repousa após o parto. Outro espaço que requer adjacência imediata é o setor destinado a acomodação do acompanhante, para facilitar a assistência e proximidade do indivíduo de confiança escolhido pela mulher durante os estágios clínicos do parto.

Quanto a iluminação, por corresponder a um espaço de repouso e relaxamento, indica-se uma iluminação condizente com essa necessidade, propiciando um clima relaxante e com poucos estímulos.

O segundo setor, deve ser destinado a acomodação do acompanhante, pois, objetiva atender a atribuição do CPN que garante a presença desse indivíduo no cenário do parto. Esse setor tem como objetivo servir como ponto de apoio ou de descanso para o acompanhante durante a estadia do mesmo no quarto para PPP. Para esse fim deve ser prevista a presença de uma poltrona removível.

Assim como no setor de repouso da gestante, entende-se a importância de promover uma ambiência tranqüilizadora e relaxante favorecendo a permanência desse indivíduo no espaço durante a estadia da parturiente no quarto para PPP.

Considerando que o objetivo de um CPN é atender ao parto sem distocia fazendo uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor, deve-se prever a presença de equipamentos e materiais para auxilio da progressão do trabalho de parto. Para isso, indica-se o estabelecimento de um setor de Assistência ao Pré-Parto, que conte com a presença de: Escada de Ling, bola de suíça, cavalinho, banqueta de parto, rebozo, mesa auxiliar, foco de luz móvel, relógio, banheira e armário sinalizado que permita a acomodação dos equipamentos para casos de intercorrências.

Entendendo que o processo de parturição apresenta características e necessidades diferentes a medida que evolui, esse setor deve permitir a adequação do ambiente alinhada a estas mudanças. Diante disso entende-se que aspectos como iluminação e organização espacial devem permitir fácil manipulação.

O espaço para refeição corresponde ao local onde deverão ser servidas as refeições para a parturiente e acompanhante durante a estadia no quarto para PPP, tendo em vista que a dieta livre é uma das condutas que favorece a humanização do parto.

Em casos onde o CPN contar coma a presença de uma copa/cozinha comunitária sugere-se necessário apenas uma mesa para refeição com dois lugares e um frigobar para o armazenando de alimentos, caso contrário, faz-se preciso a adição de equipamentos que permitam a cocção de alimentos, como fogão ou microondas.

Por trata-se de um espaço destinado ao consumo de alimentos, a iluminação desse espaço deve garantir um bom índice de reprodução de cores.

Tendo em vista que, segundo a RDC nº 36 (ANVISA, 2015), o quarto para PPP deve assistir as mães e os bebês durante os primeiros instantes do pós-parto, faz-se necessário um setor destinado aos cuidados imediatos e higiene do recém-nascido. Para esse setor indica-se a presença de bancada com pia, instalação de água quente e fria, oxigênio, sinalização de enfermagem, balança de recém nascido, armário sinalizado para materiais usados nos cuidados preliminares do bebê e um berço (com rodas, para facilitar o manuseio do móvel).

Diante das atividades desempenhadas neste setor, indica-se uma iluminação que disponha de um bom índice de reprodução de cor, facilitando a identificação do quadro clínico do RN.

O banheiro de uso da gestante deve ser acessível e conter: lavatório suspenso, recipiente para sabonete líquido, depósito de papel toalha, lixeira, bacia sanitária, barras de apoio, espelho inclinado e box.

Entendendo que o uso do banheiro não objetiva atender apenas as necessidades de higienização da parturiente, mas sim permitir a assistência de manobras para alívio não farmacológico da dor, é necessário que haja facilidade no acesso e permanência de mais de um indivíduo no espaço, bem como a possibilidade de dimerização da iluminação e a proximidade com o setor de assistência ao pré-parto.

5. Conclusão

O parto corresponde ao primeiro contato físico entre mãe e filho, fora do útero, logo é o momento em que hormônios e carinhos são trocados fazendo com que um desperte no outro novos instintos, sensações e percepções.

Quando bem acolhida e amparada em um local seguro, aconchegante e familiar, a mulher permite se concentrar apenas no parto e na chegada do seu bebê, deixando em segundo plano os medos, traumas e pudores que poderiam influir negativamente nesse momento.

Mesmo considerando os inúmeros benefícios que o ambiente humanizado pode promover ao trabalho de parto, constatou-se durante a etapa de pesquisa, a escassez quanto as diretrizes de projeto e normas que envolvam essa temática associada ao Design de interiores. Logo ficou claro que o campo existente para a concepção de ambientes de interiores hospitalares é pouco explorado no Brasil.

Sendo assim, este estudo demonstrou que é possível elaborar ambientes seguindo as necessidades de um anexo hospitalar sem desconsiderar os critérios de humanização, fazendo com que esse tipo de espaço se torne menos hostil, mais aconchegante e convidativo.

6. Referências bibliografias

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SILVA, M. L. Iluminação – Simplificando o Projeto. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2009.

Currículos dos autores

Isaura Cavalcanti Brandão Neta

Resumo do Currículo Vitae: Graduada em Design de Interiores pelo Instituto Federal da Paraíba (2016).

Flora Alexandre Meira

Resumo do Currículo Vitae: Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (2009), com intercâmbio no Institut National des Sciences Appliquées (INSA) de Strasbourg, França. É mestre em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo pelo PPGAU/UFPB. Desde 2012 é professora efetiva do Curso de Design de Interiores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). Atualmente é pós-graduanda em Design e Arquitetura de Espaços Efêmeros (IESP).

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