Categories: Edição 05

DoDiS: Da subversão à construção na área do Design de Interiores

Autora:

Nora Geoffroy

Transcrição do texto de abertura do Fórum DODIS – 2021
Da subversão à construção na área do Design de Interiores: intencionalidade do Fórum.

Boa tarde a todas e todos,

Em nome de nossa presidente Silvana Carminati, ausente por necessidade, pois certamente aqui estaria, é com muita alegria que, representando conselheiros e coordenadores do ABD Acadêmico – cerca de 16 voluntários, docentes e profissionais do campo de Interiores, recebo professores, estudantes e profissionais, neste evento em que estamos mais uma vez propondo um momento de pausa em nossa vida cotidiana multitarefas para nos concentrarmos por duas tardes e ceder espaço a uma reflexão sobre a formação profissional em seus diferentes níveis, que remete diretamente ao futuro do Design de Interiores. Este é o papel de Fórum Acadêmico, que se firma como um evento anual significativo – hoje restrito pela imposição da virtualidade. Gostaríamos muito de acolher presencialmente aos participantes das diferentes regiões do país, e abraçá-los, agradecendo a singularidade de cada sotaque e a generosidade e a confiança em nossa associação, quando cada participante traz contribuições para este debate que se amplia – cada vez mais urgente. Este afago remoto, mas não menos caloroso, quem sabe será presencial no próximo ano. A esperança de dias melhores se faz necessária em todos os âmbitos da vida, e aqui não é diferente. Permitamos que o otimismo ilumine a nossa desconcertante realidade. 

Não posso ainda deixar de registrar o nosso agradecimento às empresas que nos patrocinam, a Roca e a Coral, apoio importante que colabora para este momento de reflexão. 

Em relação à responsabilidade de sustentação de um campo, o papel das instituições envolvidas com a formação é decisivo: Academia e Escola geram profissionais, cidadãos e pessoas. Principais atores integrantes deste universo – professores e estudantes têm o dever de estudar e permanecer atualizados, observando e intuindo as mudanças que a sociedade enfrenta, de modo a encontrar novos caminhos que provoquem inflexão e tomada de novos rumos. 

No mundo tecnológico, um novo sistema vem revolucionando a evolução digital. Trata-se do NO CODE (sem códigos), que propicia a que pessoas sem competências formalmente construídas adquiram a capacidade, por exemplo, de projetar um aplicativo ou criar um site, em poucas horas. O NO CODE permite o “Faça você mesmo!” digital. É um sistema disruptivo, que rompe com o modo institucionalizado de fazer as coisas, ampliando oportunidades e democratizando a prática em determinado nicho.

No multiverso de Interiores, o NO CODE equivaleria, se nos permitirmos alguma divagação, aos cursos oferecidos aqui e acolá, que jogam no mercado, na verdade, – amadores que se fazem passar por profissionais. Tudo bem, pode haver na diversidade do mundo social, um nicho para esses ditos “profissionais”. Mas a transparência do fato deve ser cultivada: o público alvo deve conhecer os limites desta atuação. Da mesma forma que, no sistema NO CODE, não se tem a pretensão – e nem mesmo a possibilidade de alcançar o potencial do campo, mas apenas se busca resolver um problema simples de forma simplificada. No campo, seria o que se chama de uma solução doméstica. Sem grandes alcances.

O fato de que, no momento, nossos cursos estarem sendo inseridos em conselhos de classe, não significa, de modo algum, que nossos problemas estejam resolvidos. Claro que isso é um grande passo que estamos dando. Mas é preciso que haja, dentro de cada uma dessas autarquias, o compromisso de contribuir para a estruturação do campo em toda a sua gradação, acolhendo a todos dentro de suas singularidades e restrições, de forma séria e responsável. Esta transparência é crucial para não trazer prejuízo e para focar este multiverso, destacando o potencial de um campo que busca saúde física e mental, inclusão e cidadania, segurança e autonomia para os usuários, muito além do espaço bonitinho. 

Isto posto, o setor acadêmico da ABD, reconhece o seu papel nesse assunto e conquistou, nos últimos anos, uma coesão interna significativa que acolhe múltiplas formações, de modo democrático, buscando vislumbrar desdobramentos futuros, principalmente em momentos adversos como os que vivemos. Estendamos nossos laços para essas realidades múltiplas, não permitindo o amesquinhamento do setor, revelando a potencialidade do pensamento em design e de uma prática inovadora.

Hoje, queremos dizer: mãos à obra! 

Aqui nos reunimos para enfrentar o que nos aflige, mas além das narrativas, certamente importantes, talvez possamos galgar um degrau e, de modo delicado e firme, reconhecer equívocos e apontar possibilidades outras em nosso papel de educadores, conectando docentes e discentes em uma reflexão teórico-prática que põe a mão na massa.

Propomos algumas chaves de discussão:

  1. Além das ferramentas tecnológicas de grande auxílio que hoje se apresentam e que justificam, em muitos casos, as atividades remotas de ensino, como impedir que sejam usadas de modo degradante, padronizando o resultado e contribuindo para uma formação incipiente, longe de atender ao potencial do campo? Como contribuir com os dirigentes para que percebam o aviltamento provocado por uma formação precária e aceitem, a partir de um olhar docente, outros caminhos? Como fortalecer laços com as instituições?
  2. Como inserir os estudantes nessa reflexão, evitando o jugo hierárquico eventualmente presente na relação professor-aluno, incitando-os a refletir sobre o potencial de sua formação e a exigir conteúdos compatíveis, muito além do consumo de uma padronização estética que domina o mercado profissional e que muitos acatam como foco?
  3. Como enfrentar as questões desafiadoras que o século XXI escancara em nosso país, como as questões de gênero, de raça e de desigualdade social – forjando na formação profissional, para além dos discursos, uma prática política e ideológica, não partidária, mas comprometida com o social? Como fazer o campo entender que, se não houver uma inflexão, uma subversão, uma transformação estrutural da formação, ficaremos à mercê de outros grupos para os quais temos servido de degrau na preensão do domínio da profissão? Além do ensino, como a pesquisa e a extensão – que formam o tripé da Universidade, podem contribuir para essa compreensão?

A participação no evento é tão importante quanto o mesmo. Sem uma audiência interessada, o Fórum nada é. Sem ouvidos críticos o conteúdo se empobrece. Sem escuta atenta, nada se consegue mudar. Enfim, nós do Acadêmico precisamos de vocês. Para nos dizer o que pensam e como nossos objetivos podem ser emparelhados rumo à excelência da formação.

Assim, deste Fórum, faz parte ouvir vocês: esperamos depoimentos a posteriori, com os quais alguns participantes já se comprometeram, mas que outros podem ainda fazê-lo. E que tragam subsídios para a atuação da associação em prol de seus objetivos acadêmicos.

A partir dessas intenções o Fórum foi dividido em quatro partes distribuídas em duas tardes, objetivando a facilitação na participação de professores a estudantes, já que se trata de um evento em que os temas se sucedem em uma trama única, cada fio contribuindo para a tessitura final.  

Na primeira parte, nosso foco foi o projeto, a metodologia e a pesquisa que dele fazem partes integrantes, como um sistema de trabalho que faz do design de interiores um campo aberto, multi e transdisciplinar, onde a beleza está justamente na singularidade de cada caso, em que se identifica um problema e dentro dele mesmo se alcança a solução – não como um resultado simplista, mas como fruto de um processo de briefing que, multifocado, abre caminho para um conceito de projeto. Pensadores de diferentes partes do país aqui estão representados: vamos crescer com essa oitiva!

Em seguida, na segunda parte do evento, ainda hoje, vamos discorrer sobre as condições atuais do ensino em meio a uma pandemia que nos aprisionou em quatro paredes, obrigando-nos a reinventar caminhos para ensinar projeto e um novo jeito de construir a relação aluno-professor. Nesse aspecto, muita cautela: acatemos alguns ganhos que o ensino remoto possibilitou, mas com responsabilidade. Nem todas as facilidades resultam em um produto superior… O hibridismo na educação à distância pode salvá-la, e talvez seja uma das saídas para a melhoria de seus resultados. Aqui, especialistas vão nos ajudar a entender como se faz uma EAD com qualidade! É possível e absolutamente necessário que os cursos à distância se comprometam com a qualidade: só assim poderão ser respeitados e ajudar a consolidar nossa profissão.

Na terceira parte de nosso Fórum, no dia 2, vamos estender olhares para além da sala de aula, ouvindo especialistas que nos trarão suas experiências, mostrando que a autonomia dos estudantes no seu engajamento à pesquisa e à extensão é fator de peso na sua formação.

E finalmente, tão importante como as partes anteriores, finalizaremos o nosso fórum ouvindo, em sua quarta parte, estudantes e egressos, que apontarão caminhos para o futuro em articulação com práticas das boas instituições de ensino, que desse modo subvertem o status quo muitas vezes mal visto da profissão: o valor do trabalho de conclusão de curso, que muitas instituições dele abrem mão por facilitação de operacionalização – afinal a orientação individual de projetos finais é algo onerosa, sem dúvida, mas que rende, para o estudante, um benefício sólido, sendo uma experiência única que modifica sua própria leitura sobre a projetação. Vozes de estudantes trazem juventude e atualidade. Estudantes que pesquisam em suas instituições e que utilizam suas pesquisas de forma prática no projeto – nada mais bonito que isso. Egressos que abrem caminhos – que uma vez abertos lá estão disponíveis – e que mostram justamente o multiverso do campo. E então, de posse de tantos novos conceitos e ideias, saibamos compreender os desafios que nos rondam nesse ano em que mais de 1/5 do século XXI já passou. Há muito o que tecer, muitas ideias a desbravar, muitas atitudes a serem assumidas e, principalmente, muita consciência a ser ampliada para que o campo de Interiores se faça cada vez mais sólido, mais denso, mais coeso, compreendidas as dificuldades que ora prejudicam o seu pleno desenvolvimento.

Bem, mãos à obra!

Comecemos o nosso Fórum! Vocês serão acolhidos a partir de agora pela nossa Maria Celia Toledo, parceira querida dentro da ABD, que nos guiará ao longo de nosso percurso.

Bom evento a todas e todos!

Mini Biografia

Nora Geoffroy, presidente do Conselho Acadêmico (CAc) da ABD, é designer de interiores, professora titular do curso de Design de Interiores na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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