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Estudo de Design para uma Sala de Aula Modelo

ESTUDO DE DESIGN PARA UMA SALA DE AULA MODELO

Design study for a model classroom

Autora

Thiara Lety Soares Stivari Socolovithc

Resumo

O presente artigo versa sobre uma observação no âmbito do design de interiores do modelo atual de salas de aula focando no ambiente de Ensino Superior. Esta pesquisa bibliográfica aborda a discrepância e o distanciamento do design atual em relação às transformações sociais, culturais e tecnológicas que envolvem as novas gerações de alunos. Os resultados obtidos da observação de salas de aula demonstram que ainda existem sérios problemas de conforto ambiental, que são espaços esteticamente pobres de estímulos à criatividade e tecnologicamente desatualizados. Na sequência apresenta-se um projeto modelo como uma alternativa salientando a importância de se repensar a educação contemporânea não somente em questões pedagógicas, mas também o espaço de ensino.

Palavras-chave: Design; Sala de Aula Contemporânea; Ergonomia.

Abstract

This paper is an observation within the scope of interior design of the current model of classrooms, focusing on the College environment. This bibliographic research addresses the discrepancy and distancing of current design of classrooms in relation to the social, cultural and technological transformations that involve the new generations of students. The result of an observation of classrooms shows that there are still serious problems of environmental comfort, the classrooms are aesthetically poor of creative stimulus and technologically outdated. Following there were developed a model classroom as an alternative emphasizing the importance of rethinking contemporary education not only in pedagogical matters, but also the teaching space

Keywords: Design; Contemporary Classroom; Ergonomics

Introdução

Uma das características fundamentais da história da humanidade é a capacidade de registrar suas descobertas e transmiti-las a diante possibilitando novas conquistas e significados sociais. Bahia e Oosterbeek (2014) descrevem a importância da socialização do conhecimento para o avanço da raça humana, primeiramente o compartilhamento ocorre por meio da oralidade e tradições familiares e na sequência o ensino passou a ser comunitário estabelecendo as relações entre mestres e pupilos em espaços reservados. Para a continuação da evolução social e histórica é fundamental que o espaço de ensino e as dinâmicas dentro dele sejam pensados com criticidade e com a devida importância.

De acordo com Bauman (2011), ao trabalhar o que chama de templos fluidos, a sociedade e as tecnologias atuais geraram uma mudança radical nas interações entre pessoas, os espaços e seus objetos. A velocidade dos acontecimentos e sua sobreposição transformam as informações e os conceitos em algo fluido de intensa mobilidade e em constante mutação.

Essa nova realidade motivou a pesquisa sobre o design das salas de aula uma vez observado que nos ambientes de ensino houve pouca evolução ou uma repetição de um modelo desestimulante e desconexo em comparação às transformações sociais das últimas décadas. As salas de aula encontram-se privadas de estímulos visuais e tecnologia, além de ainda possuírem problemas de conforto ambiental. A existência de cadeiras confortáveis e alguns computadores não são elementos suficientes para estimular o aprendizado.

A metodologia utilizada neste artigo foi pesquisa bibliográfica pautada em livros, periódicos, artigos científicos e sites especializados, com os aportes principais de Bauman (2011), Mosé (2009), Kowaltowski (2011) entre outros, e realizados modelos computacionais e cálculos de conforto ambiental em uma sala de aula de Ensino Superior do Unicesumar, Maringá-PR, que serviu como uma base para a análise. Para o modelo proposto foi utilizada uma sala de aula fictícia que conta com materiais estruturais equivalentes, sendo possível a aplicação dos cálculos de conforto ambiental e proposta de design adequada para o intuito do projeto.

Nesse sentido, este artigo contextualiza o ambiente de sala de aula ao momento atual, fazendo o levantamento bibliográfico sobre os fatores sociais e arquitetônicos que podem influenciar para a melhora do ambiente de ensino demonstrando técnicas de design de ambientes para melhorar as condições da sala de aula por meio de um projeto modelo.

O contexto das salas de aula

Para a compreensão da dinâmica de uma sala de aula é necessário que se faça breve levantamento sobre a história do ensino, do desenvolvimento pedagógico e das questões culturais e educacionais. A escola surgiu a partir da necessidade do homem de transmitir seu conhecimento para a próxima geração. Esse compartilhamento de ideias e experiências foi essencial para que o indivíduo conseguisse sobreviver e se adaptar ao meio. No início da civilização a passagem de conhecimentos se dava pelo ensino de pais para filhos, por meio da oralidade e prática.

Os primeiros indícios de escola são tratados em Barbosa (2012) quando escreve sobre a educação no Oriente Médio, berço da escrita e das primeiras salas de aula estruturadas, segundo o autor, a educação era para os filhos das classes dominantes e era baseada no estudo religioso para formação de sacerdotes e para necessidades do governo fundamentado na arte da retórica. Os ofícios eram passados de pais para filhos sem modelo formal por meio da experiência.

Amado (2007) comenta sobre o ensino na Grécia Clássica (principalmente Atenas), em que se observava o aflorar da escola pública, ali surgem os tutores e os primeiros modelos de escolas para todos. O autor, se referindo ao trecho de Platão em Protágoras, ressalta que as crianças iam para a escola aprender letras e cítara, o método de ensino obrigava-as a decorar e declamar os poemas dos grandes poetas nas bancadas no intuito de que se esforçassem para ser como eles. Os mais ricos tinham a possibilidade de manter seus filhos por mais tempo nas escolas fazendo com que o estudo se aprimorasse e surgissem as primeiras faculdades.

Após a queda da cultura clássica greco-romana o ensino na Europa passa a ser regido pela igreja de maneira rígida, geralmente restrita aos mosteiros e na educação da nobreza. O Renascimento apresentou uma nova abordagem para o ensino civil, os ideais humanistas e a reforma protestante demonstravam o decaimento gradual do poder da igreja e após a Revolução Francesa, já no século XVIII, com o Iluminismo vemos a sedimentação e instalação da educação laica uma educação à parte da igreja, dando ao governo as bases do ensino. Neste período, Marquês de Pombal expulsa os padres jesuítas de Portugal e suas colônias impondo um ensino mais ‘liberal’ e racionalista (AMADO, 2007).

O modelo moderno tinha como base a educação pública pela necessidade de especialização de mão-de-obra para as máquinas e com isto o ensino das classes operárias. A dinâmica de ensino se baseava na memorização, repetição, correções e metodologia padronizada numa forma clara para o governo estabelecer suas bases.

O século XVIII foi o século da disciplinarização dos saberes, isto é, da organização interna de cada saber como uma disciplina, tendo, no seu próprio campo e, simultaneamente, critérios de seleção que permitem afastar o falso saber, o não saber, formas de normalização e de homogeneização dos conteúdos, formas de hierarquização e, por fim, uma organização interna de centralização desses saberes em torno de uma espécie de axiomatização de fato (FOUCAULT, 2004 p.161-162).

No século XX houve um desenvolvimento das ideias pedagógicas e sociais. Um dos precursores da “Escola Nova” foi John Dewey, que tinha como princípio o aluno pesquisador, a educação desenvolvida no ato de fazer e com isto iam surgindo questões a serem resolvidas (PALMA FILHO, 2011).

A partir da metade do século XX, autores como Zygmunt Bauman, Michel Foucault, Edgar Morin entre outros, começam a teorizar uma decadência das utopias modernas estabelecendo o início da pós-modernidade, uma Era de complexidade, de questionamento do que é moral e humano, de liquidez dos tempos e dos espaços, a isto Edgar Morin desenvolve uma abordagem sobre uma educação planetária e seus desafios.

Morin versa que as escolas raramente ensinam a compreensão entre pessoas, empatia, identidade e relacionamentos mais positivos. Discutindo sobre o que chama de “buracos negros da educação” temas como: “conhecimento e dificuldade de fornecer saberes no ensino”, ou, “a importância da contextualização para uma transferência de conhecimento pertinente no ensino”; “a convergência das disciplinas para a identidade e condição humana como homo sapiens, ludens, economics” (MORIN apud KOWALTOWSKI, 2011 p.36).

Pesquisas mais recentes estudam a exposição às informações e à conectividade dos últimos 20 anos e como isso transformou a forma como crianças e adultos têm aprendido novos conteúdos e em que lugar isto acontece. Cortella (2004) atenta para a necessidade de se repensar a forma de ensino em uma sociedade pós-moderna. Segundo ele, as crianças de hoje nascem imersas neste mundo conectado e já não são mais como os alunos de 20 anos atrás, com isto a forma de ensino não pode ser a mesma. Segundo o filósofo, uma criança a partir de dois anos assiste em torno de três horas de TV por dia, mil horas no ano, a esse tempo são acrescidos as horas gastas com outros meios de comunicação tal como celular e tablets. No entanto, aos cinco anos, as crianças ao irem para seu primeiro dia de aula se deparam com uma realidade totalmente diferente.

Para a filósofa Viviane Mosé (2009) é importante compreender que se na era moderna a necessidade social era baseada na quantidade de informações acumuladas na memória, a exemplo da escola tradicional na memorização das “verdades”, na pós-modernidade a temática é outra. O foco está na sociedade do conhecimento, ou seja, alguém que possui acesso à informação em rede e que consegue gerar conexões ou soluções importantes a partir dela (GOIS, 2013).

Bauman (2001) reitera descrevendo que nesse tempo líquido pós-moderno a velocidade de troca de paradigmas devido às inovações é como nunca se viu e colide com a ineficiência das instituições de ensino em acompanhar essas mudanças sociais.

Nestas referências constatamos a situação atual das dinâmicas sociais e uma crítica quanto ao ensino em sala de aula, esses pontos levantados auxiliam no questionamento de como melhorar o ambiente de ensino para contribuir com o desenvolvimento pedagógico.

Quem são esses alunos?

Segundo Cortella (2004), nos últimos 50 anos tivemos uma aceleração do tempo e das formas de relações humanas, o que se entendia por mudança de perfil de geração a cada 25 anos, hoje já não se encaixa mais, com isto o ensino não pode ser visto da mesma maneira como era nas décadas anteriores, os alunos não são os mesmos.

Para compreender parte desta evolução, a pesquisa procurou compreender algumas características das principais gerações atuantes em nossa sociedade, classificadas como Baby Boomers, X, Y e Z, com foco nas gerações Y e Z que são a maioria dos ingressantes nas faculdades do país.

A geração Y, que varia entre os nascidos 1980-1990, são jovens/adultos que cresceram em uma perspectiva de mundo melhor com a quebra das grandes filosofias e em um contexto em expansão, seja de tecnologia, seja de países em desenvolvimento (OLIVEIRA et al., 2012). Este grupo é estimulado por atividades, multitarefas, espírito de coletivismo e inclusão. É uma geração que domina o mouse, as mídias sociais, as interfaces digitais com extrema facilidade fazendo uso de múltiplas inteligências para o fortalecimento de suas próprias redes de network. Nas empresas quer ser participativo e não somente operador, é impulsivo, impaciente e quer crescer rapidamente. Ele vê o emprego como algo para crescer e não como carreira hierárquica, procura reconhecimento e não é estático no trabalho. Esta geração é multimeios e multitarefas, executa uma tarefa ouvindo música e navegando na internet. Vive com estímulos, não tem paciência para reuniões muito longas. Porém, presenciou as mudanças mais importantes dos últimos tempos e percebeu que existem caminhos possíveis, por isto, não segue muito a hierarquia e processos que não pode opinar (OLIVEIRA et al. 2012).

A geração Z, de acordo com Oliveira et al. (2012), compreende os nascidos na segunda metade dos anos 90 e tem o Z atribuído de “Zapear”. Eles são os “nativos da internet”. Para o professor de psicologia e filosofia da PUC-Campinas, Arlindo Ferreira Gonçalves Júnior e para o consultor em marketing e estratégia, Marcos Calliari (MATTIASO, 2013), esta geração nasce com a tecnologia instalada, tudo conectado e em alta velocidade. É uma geração que percebe o viver no espaço mais como o que se compartilha do que a experiência em si. Pode se referir à sociedade do espetáculo de Guy Debord (1997), estendida a interatividade e ao viver intensamente compartilhando, gerando uma possível crise da visão crítica nesta geração. Por ser imediatista se distrai com muita facilidade e utiliza a tecnologia como meio de supressão para o tédio, perdendo o tempo do ócio criativo ou tempo da reflexão. Para este fato os profissionais preveem uma crise, pois são jovens que não tem profundidade sobre os temas. É uma geração extremamente criativa e produtora de conteúdo rápido, sejam blogs, vídeos e músicas. Atualmente, ocupando as classes de ensino fundamental e médio, a “geração Z” acabou com o reinado das aulas expositivas, já não basta intercalar conteúdos e exercícios para atrair a atenção dos jovens, a tecnologia é a principal aliada dos professores.

O Design da sala de aula

Para Doris Kowaltowski (2011) o que se percebe com a história da educação é que existe uma vasta pesquisa e evolução na área pedagógica, entretanto a arquitetura e o design são pouco questionados. Kowaltowski (2011) salienta que os aspectos físicos do ambiente escolar são pouco citados nas discussões pedagógicas ou em estilos de aprendizagem.

A autora comenta que os desenvolvimentos dos fundamentos da educação influenciam e devem ser considerados para o estudo da arquitetura e design de uma sala de aula. Para ela “o ambiente físico escolar é, por essência, o local do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem” e “deve ser analisado como expressão cultural de uma comunidade” (KOWALTOWSKI, 2011, p.11). Este fato nos leva questionar primeiramente o porquê de não se investir em abordagens neste sentido, e em um segundo ponto ressaltar a importância de fazê-lo:

É pertinente indagar a respeito do impacto de elementos arquitetônicos sobre os níveis de aprendizagem de alunos e de produtividade dos professores ao transmitirem conhecimentos. Para a comunidade escolar, deve existir a certeza de que o ambiente físico contribui positivamente para criar o contexto adequado, confortável e estimulante para uma produção acadêmica expressiva (KOWALTOWSKI, 2011, p.40).

Segundo Kowaltowski (2011) a psicologia ambiental estuda a relação entre o comportamento humano e o ambiente físico, principalmente por meio de recomendações de projeto, o arquiteto deve buscar formas e elementos que estimulem a relação homem e ambiente promovendo a sensação de conforto e segurança, ou ainda, imprimindo uma característica de ambiente social e coletivo ou individual e íntimo.

As estratégias de design de interiores podem ser implementadas no espaço para estimular sensações positivas em um ambiente, a psicologia das cores é um dos recursos e mais além, os estudos ergonômicos, de conforto ambiental e estudos culturais contemplam não somente os aspectos visíveis, mas a experiência sensorial como um todo. Por esta razão ressaltou-se algumas pesquisas sobre conforto ambiental que são caminhos interessantes para a criação da sala de aula modelo.

A respeito do conforto acústico o professor Simon Smith (2012), responsável pelo ambiente de aprendizagem da escola inglesa Sweyne Park, defende como a acústica pode influenciar no aprendizado. Em sua pesquisa foram implementadas salas modelo com demonstração de diferentes sistemas de tratamento acústico para observar a melhora sonora e a diminuição do tempo de reverberação de cada sala, o resultado observado foi que na sala com sistema acústico otimizado os professores não precisavam mais elevar a voz para serem ouvidos, não era preciso repetir (os alunos entendiam a tarefa na primeira vez) e os profissionais se sentiam mais relaxados ao fim do dia. Por parte dos alunos foi constatado que a sala era mais silenciosa, eles conseguiam entender melhor o professor e não se distraiam com facilidade. No Brasil a recomendação técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na Norma Brasileira (NBR)12179/1992 sobre conforto acústico aconselha que a intensidade sonora, ou nível de ruído dentro de sala deve estar entre 40-50dB e que o tempo de reverberação seja de 0,4-0,6 segundos.

Com relação ao conforto térmico Nelson et al. (1987) desenvolveram uma pesquisa utilizando câmaras de testes para verem a relação entre produtividade, fadiga e estado psicológico em diferentes condições de temperatura e umidade. Seus resultados mostraram que a produtividade é maior e a fadiga progride mais lentamente em ambientes climatizados artificialmente mais frios do que em ambientes quentes, contudo, um ambiente muito frio provoca incômodo nos indivíduos, causando desconcentração. Lamberts, Dutra e Ferreira (2014) salientam a importância do estudo do clima, da orientação dos fechamentos transparentes (janelas e paredes de vidro), o uso de bloqueadores externos e internos como brises e a importância da ventilação cruzada para diminuição da temperatura interna dos ambientes promovendo maior conforto.

No campo do conforto visual a norma de orientação é ABNT ISO/CIE 8995-2:2013 que prevê uma iluminância de 200-500 lux sobre a área de trabalho para salas de aula de alunos com média de idade de até 40 anos. As normas atentam para a importância na escolha dos materiais e das fontes luminosas tanto para a luz incidente quanto para a luz refletida nos tampos. A norma diz que uma luminária de luz direta deve apresentar um UGR (Índice de Ofuscamento Unificado) de 22 e IRC (Índice de Reprodução de Cor) igual a 80. Esses indicativos auxiliam na escolha dos produtos e têm a função de promover acuidade visual, evitar a fadiga e o ofuscamento para isso são recomendadas superfícies não especulares (difusas) para evitar reflexões veladoras ou ofuscamentos.

Em termos de avanço tecnológico empresas como Intel (GUSMÃO, 2014) e Google (PAIVA, 2014) têm desenvolvido uma série de inciativas para repensar metodologias de ensino, aumentando a interação e a imersão da tecnologia em sala de aula com uma perspectiva a longo prazo baseando-se na capacitação primeiramente dos professores para daí uma definição das tecnologias a serem implementadas. O modelo da “classroom of the future” da Intel (GUSMÃO, 2014) é uma das perspectivas, se trata de um computador/tablet por aluno interconectado, além de lousas interativas para o desenvolvimento de projetos colaborativos. O professor tem controle do desenvolvimento de cada aluno, mas de forma integrada, todos caminham para a solução de problemas, no exemplo da Intel, para a construção de uma ponte.

Observação de uma sala de aula

Para este trabalho foi analisada uma sala de aula utilizada para o Ensino Superior da Unicesumar e observou-se que, em comparação a salas de aula de diferentes épocas, essa se mantém próxima ao formato do início século do XX, estilo moderno, com carteiras de madeira e aço tubular de 60x40cm, poltronas em tubo de aço com acento em madeira ou tecido com quatro pés fixos, uma mesa para professor, quadro-negro ou branco no centro, poucas alterações tecnológicas como o uso de um computador para o professor e projetor multimídia e, em alguns casos, aparelho de som. Foram observadas luminárias tubulares, ventiladores de teto, cortinas blackout e condicionadores de ar em algumas salas de aula, como pode ser observado na Figura 1 que mostra sala de aula analisada.

Figura 1: Sala de aula observada

A respeito do conforto acústico observou-se a baixa qualidade acústica das salas, com pouca absorção de ruídos, que tendem a aumentar com o passar da aula. Quando possui sistema de áudio é normalmente uma caixa amplificada em um canto da sala. Os materiais de pisos, paredes e teto são lisos e pouco absortivos, causando um tempo de reverberação superior ao estabelecido pela norma. Na sala estudada o tempo de reverberação, utilizando o método de Sabine, considerando o coeficiente de absorção a 500Hz foi calculado em 1,14 segundos para a sala totalmente ocupada e de 2,20s para a sala vazia, sendo que o recomendado são 0,45s.

a) Elevação com vista das aberturas e ventilação

Fonte: A autora

Na aferição com o uso do decibilímetro os dados apontados foram 60 dB para sala em silêncio, o que aponta um ruído externo e ruído de fundo influenciando na intensidade sonora da sala, durante a explanação do professor os valores foram de 70-80dB com os alunos em silêncio e de 70-90dB com os alunos em atividades em grupo, o que é muito superior ao recomendado pela NBR.

O conforto térmico é garantido por condicionador de ar ao fundo da sala, porém a maioria das salas da instituição ainda não dispõem deste sistema podendo provocar um desconforto térmico principalmente durante os períodos matutinos e vespertinos pela ausência de bloqueadores externos e da incidência direta dos raios solares. A circulação de ar é cruzada com as janelas no topo da parede voltadas para corredores internos.

No caso da iluminação observou-se que está dentro dos padrões normativos, no entanto, isto muda quando se inicia a aula, considerando que as luzes devem ser apagadas para verem os slides. As figuras 2 e 3 mostram a aferição intensidade luminosa sobre o plano de trabalho (0,75m do piso) por meio de um luxímetro, foram medidos no período noturno em diversos pontos da sala com todas as luzes acesas e novamente com a maior parte das luzes apagadas a não ser a última fileira conforme a prática dos professores em sala.

Com base nestes levantamentos este artigo apresenta uma proposta para uma sala de aula modelo, levou-se em consideração as possibilidades tecnológicas existentes, todavia não se propõe aqui fazer o estudo da viabilidade econômica por considerar que a implementação do modelo depende não só dos valores de mercado, mas também de um planejamento institucional entre outros aspectos. A sala de aula proposta foi baseada em um espaço de 48m2, com materiais estruturais semelhantes a sala estudada. Em termos arquitetônicos a sala segue as normas da ABNT com as aberturas de janelas e portas dentro dos padrões recomendados.

O conceito do projeto foi pensado sobre a perspectiva da pós-modernidade com a base na estética desconstrutivista inspirada nas obras do arquiteto Daniel Libeskind, devido à pós-modernidade ser um movimento que questiona os conceitos preestabelecidos, desconstrói o pensamento modernista cartesiano para um projeto multiforme, fluido, complexo e mais humano, e esses elementos estão fortemente retratados na estética de Libeskind.

Daniel Miller (2013) explica como os objetos podem figurar como molduras para o comportamento adequado, deste modo, a sala de aula com estímulos visuais, auditivos e táteis pode auxiliar na criatividade ao propor um espaço diferenciado, por esta razão o aspecto de sala insípida é sobreposto por estímulos calculados que possam auxiliar na dinâmica do espaço. A presença de cores, formas angulares e direcionais animam o espaço e estimulam as atividades cognitivas, como pode ser observado na Figura 4.

Figura 04: Representação ilustrativa perspectiva computadorizada da sala, painéis acústicos em V com direcionamento para palanque do professor.

Fonte: A autora

Para o teto foi projetada a combinação de placas flutuantes brancas com recortes diagonais com o teto de alvenaria pintado de preto criando a sensação de infinito, o desenho garante uma distribuição difusa e homogênea com ênfase na acuidade visual. As lâmpadas são LED na temperatura de 4200k (cor branca natural) com IRC superior a 80 e UGR 22, devido à sua durabilidade, qualidade na reprodução de cores e fluxo luminoso.

Ao invés de projetores que perdem qualidade e nitidez, é proposto o uso de televisores de LED de alta definição com tecnologia touch screen, pois são emissores de luz e podem ser utilizados com as luzes da sala acesas proporcionando imagens mais nítidas, facilidade de leitura e evitando a sonolência. O projeto ainda sugere o uso de painéis de TV interativa ao fundo da sala, permitindo acesso direto aos conteúdos, avisos, vídeos e trabalhos que estão sendo desenvolvidos por outros cursos, pesquisas científicas, entre outros, ou seja, os cursos podem interagir mais entre si, captar mais recursos, ideias e conteúdos por meio do compartilhamento de informações. É sugerido o uso de softwares de gestão de ensino, a exemplo das novas plataformas desenvolvidas pela Google, Intel e Samsung, as telas interagem com os tablets/computadores dos alunos e o professor consegue ter o controle, compartilhar e acompanhar o desenvolvimento dos projetos dos alunos.

Para um conforto acústico painéis de lã de vidro foram aplicados nas laterais e no teto flutuante, absorvendo o som reverberante e reduzindo assim a sensação de ruído excessivo (para esta sala modelo o tempo de reverberação baixou de 1,2 para 0,4s). Os painéis laterais formam grandes triângulos de placas acústicas que ajudam no conjunto para conforto acústico e promovem o direcionamento do olhar para a área do professor criando uma dinâmica visual e zona de interesse. Dois painéis nas laterais ao fundo das telas do professor são colocados com em 45ºgraus para diminuir o paralelismo das paredes e auxiliar na dissipação do som. Ao fundo da sala um painel em madeira pinus funciona não só como painel para livros, mas também como difusor acústico que, ao contrário do teto flutuante, não diminui o tempo de reverberação, mas serve para manter a acústica da sala “viva” espalhando o som de forma difusa pelo ambiente (Figura 5).

Figura 5: Representações da sala modelo

Para o conforto térmico deve haver um estudo que analise a característica climática da região (NBR 15220), a orientação dos fechamentos transparentes e o tipo de insolação incidente na sala, a presença ou não de bloqueadores de radiação direta (brises, coberturas ou vegetação), além de uma união de fatores como a escolha de materiais, ventilação cruzada, climatizadores artificiais para dias mais quentes garantindo melhores condições para memorização e raciocínio dos alunos. Enquanto projeto de design, sugere-se o uso de materiais de baixa condutibilidade térmica que evitam as trocas de calor com o ambiente mantendo a temperatura estável por mais tempo, um exemplo é o piso vinílico, as poltronas polipropileno, mesas revestidas com tampos de melamina fosca e cortinas tipo rolo com tecido blackout.

O mobiliário desenvolvido segue de forma em consonância ao conceito desconstrutivista por meio da carteira “InVértice” com design angular, móvel e multifuncional com pés descentralizados e angulares. Elas desafiam o olhar e instigam a criatividade (Figura 6). O tampo das carteiras em melamina de alta pressão na medida de 90×60 cm aumentando o espaço de trabalho. Pensando em um design inclusivo e universal, o tampo possui regulagem de altura e é rebatível / escamoteável para agrupar as mesas e liberar espaço na sala dependendo da dinâmica que o professor deseja, além de virar um quadro para discussões em grupo. A bancada de apoio para o professor é elevada e móvel, medindo 0,90-1,10 m de altura, para que ele possa ter um apoio onde precisar e na altura ergonômica para uma pessoa em pé.

Figura 6: Representação ilustrativa de perspectiva computadorizada da carteira InVértice modelo alunos e professor.

Fonte: A autora

As cadeiras em polipropileno são coloridas do modelo Prodige 5 do designer italiano Giampaolo Alloco promovendo além de ergonomia, maior mobilidade, conforto térmico e durabilidade. O patamar para a aula expositiva é elevado 30 cm para que facilite a visibilidade do professor por todos os alunos, a rampa na lateral permite o acesso a todos, mesmo professores ou alunos cadeirantes. A figura 7 mostra vários layouts para distribuição das mesas e por terem o tampo rebatível elas ainda podem ser agrupadas ao fundo da sala com facilidade permitindo outras dinâmicas no espaço.

Figura 7: Representação de três modelos de distribuição dinâmica das carteiras (A, B e C) da sala de aula modelo


a) Fonte: A autora


b)


c)

Em suma, a composição das peças busca uma dinamicidade que ativa a criatividade e mantém o aluno conectado ao espaço sempre descobrindo novas formas de compor o ambiente numa alusão a realidade social e sua necessidade de um olhar criativo para solução de problemas complexos atuais.

Considerações Finais

Este trabalho compreende uma reflexão sobre as salas de aula contemporâneas e sua discrepância diante da realidade social na pós-modernidade. Observando uma sala de aula de Ensino Superior foi possível perceber certos aspectos que são problemáticos, principalmente quanto a questões de conforto ambiental, mas também esteticamente a sala se apresenta insípida e desestimulante, sem compartilhamento da internet, limitando a interatividade dos alunos exclusivamente ao conteúdo do professor, o que pode ser positivo em certas ocasiões como aulas expositivas, porém essa estrutura está distante da realidade diária das interações dos alunos das gerações Y e Z que são os principais usuários desses espaços.

Acredita-se que além de programas pedagógicos o espaço físico do ensino deve ser repensado atendendo às várias formas de interação aplicando sempre um design universal. O modelo de sala de aula proposto traz formas e elementos que estimulam a relação entre homem e ambiente, trazendo a sensação de conforto e segurança ou ainda imprimindo uma característica de ambiente social e coletivo.

A sala de aula modelo proporciona um ambiente de ensino dentro da complexidade do mundo atual, fazendo com que seus usuários sejam mais participativos, contribuindo na construção e desenvolvimento de novas ideias e conceitos.

Como apontado por Mosé (2009) a sala de aula modelo exige acesso de qualidade a conteúdos digitais sugerindo uma proposta multidisciplinar, além de questões estéticas que “capturam” a atenção dessa nova geração, o projeto trouxe materiais acústicos, formas geométricas, mobiliários ergonômicos, acessibilidade, tecnologia, cores neutras e vibrantes, compondo um espaço diferente, dinâmico, criativo e estimulante.

Por fim, ressalta-se que, além do proposto, o espaço deve ser adaptável e dinâmico, acompanhando as transformações sociais e se atualizando em termos de conteúdo assim como de design aproximado a sala de aula com a realidade em que está inserida.

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Currículo da autora

Thiara Lety Soares Stivari Socolovithc
Professora de Design de Interiores no Unicesumar, escritora do livro Design de Mobiliário Unicesumar 2018, Mestranda em Comunicação Social pela UEL, Especialista em História da Arte pelo Claretiano Centro Universitário, Graduada em design de Interiores pelo Unicesumar, Graduada em Comunicação Social Habilitação Publicidade e Propaganda pelo Unicesumar.

Orientador

Especialista Leandro Henrique Siena

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